sábado, 29 de janeiro de 2011

Mitsuba - É uma casa japonesa com certeza...

Quem passa pela rua São Francisco Xavier, na Tijuca, nem repara a recondida esquina onde está localizado o Restaurante Mitsuba.
Esta localização discreta está em sintonia com a humildade que paira soberana na dupla dinâmica que comanda o restaurante, ou seja,  Homero "San" e o Chef Eduardo Nakahara, mais conhecido nos meios gastronômicos, simplesmente, como Dudu.
Quem entra no Mitusba quase sempre é recepcionado pelo Homero, que, além de um exímio conhecedor da culinária japonesa, é um gentleman e um excelente relações públicas, cativando os clientes através de suas aparições repentinas para informar os nomes dos pratos e a forma como são preparados.
Confesso que tenho um certo bloqueio para guardar os nomes de comidas japonesas, seus ingredientes, etc, porém, vou tentar ilustrar esta crônica da melhor maneira que eu puder, já que tive o cuidado de me preparar para esta postagem, fotografando e anotando os nomes dos pratos que degustei com alguns amigos, todos eles sugeridos pela batuta coordenada dos maestros Homero e Dudu.
Inicialmente, gostaria de dizer aos apreciadores de sashimi, que o Mitsuba é o único dos japas cariocas que pode ostentar a vaidade de ter, todos os dias, mais de 12 tipos de peixes sempre frescos, e que são ofertados através de um quadro que fica logo na entrada do restaurante, o qual fiz questão de fotografar para que todos pudessem ver.
Neste mesmo painel de delícias marinhas, também são apresentadas as ovas e as iguarias importadas que estão sendo ofertadas no dia, como as vieiras, as enguias, os mariscos do Alaska, mini-polvos, etc.

Como bons anfitriões, a todos os comensais que visitam este pequeno-grande espaço nipônico, é oferecido juntamente com o menu, uma entrada de boas vindas.
Para facilitar o tema da escolha da comida, o cardápio vem com quase todas as fotos dos pratos de sushis, sashimis, e outros, rotulados em japonês, mas, com a sua respectiva tradução em português.
Para aqueles que como eu apreciam a culinária japonesa, porém, não guardam seus nomes de fonética semelhante, sugiro então que aproveitem a dica que me foi ensinada dentro da gastronomia, ou seja, "deixe a escolha de algo na mão daqueles que entendem do assunto", portanto, pedi mais uma vez aos amigos Homero e Dudu que se encarregassem de nos oferecer um menu degustação onde pudéssemos sentir e apreciar de diferentes sabores e texturas.
Assim, deu-se início ao fabuloso jantar com a chegada de uma variedade de sashimis, que incluia salmão, atum, olhete, robalo e a maravilhosa cavala.
No meio da deliciosa degustação  destes peixes, aparece o Homero com a sua voz de locutor, suave, aveludada, avisando que a cavala havia sido pescada naquele mesmo dia, e que ele tem uma galera de amigos que praticam pesca-submarina, e que lhe oferecem para comprar parte do resultado obtido na pescaria.
Na sequencia, passamos para um prato com vários tipos de sushis, onde o Dudu selecionou para nós uma das suas criações, o que é preparado com vongole, acrescentando o de robalo, o de atum com pimenta e pasta de soja, o sensacional Tarako, que é o de ovas de bacalhau, e o incrivelmente saboroso, salmão brulé.
Já passavam das 22:30 horas, numa 5ª feira, e a pequena porta da entrada do Mitsuba abria e fechava freneticamente, num entra-e-sai de pessoas, as quais o Homero saudava a maioria delas pelo nome.
Quem visita o Mitsuba, não consegue mais ir comer em outros restaurantes de comida japa, pois, todos que apreciam o que é bom, com preço justo e bom atendimento, não trocam este local por nenhum outro, com certeza.
Voltando ao tema do nosso jantar, nos trouxeram uma segunda variedade de sushis, sendo que desta vez o mesmo era composto por xerelete com pesto de Shisô, robalo com molho cítrico e nabo ralado com pimenta, um outro robalo servido com um top de conserva de cogumelos (importada) e um fantástico sushi de salmão com um tartar de salmão defumado.
Quando pensamos que a degustação tinha terminado, diante da diversidade de tudo aquilo que nos foi ofertado, veio o Homero com mais um prato de sashimis, confirmando o que estava escrito no quadro, já que desta vez, o prato era composto por outros peixes como o pargo, o badejo, o remeiro (parente do olho de boi), o faqueco (parente do xerelete), e ainda o saboroso meka, que é o peixe-espada.
Depois de viajarmos por tantos sabores, aromas, texturas e muita informação sobre especiarias japonesas, que o maestro Homero conduzia como incrível habilidade, eis que chega o "prato-forte" (risos), um prato maravilhosamente montado pelo Dudu, contendo sushis com ovas de capelim (importado), que seria o tal peixe-voador, outro com shiitake e raiz forte, polvo, camarão e mais o de olho-de-boi.

Bem, agora era hora de parar de verdade, pois, certamente, comer mais seria um exagero!
Mesmo convictos do que escrevemos acima, sucumbimos diante do oferecimento de um Harumaki (nome dado a todos os rolinhos) de banana com canela, acompanhado com sorvete de creme, sendo que na nossa visita anterior, o Homero me fez provar um rolinho recheado de goiabada caseira com queijo catupiry e sorvete de queijo, que  me deixou eternas lembranças gustativas.
Bem, para aqueles que apreciam um bom sake, ou um chá, basta pedir uma sugestão ao Homero, pois eles têm uma boa seleção para ofertar.
Não poderia terminar esta postagem sem revelar a todos o significado da palavra Mitsuba, que deve ser lida como se tivesse o acento no A, e que é uma simples folha típica do Japão, composta de 3 follhinhas menores, parecida com a nossa salsinha, servindo também como tempero, sendo humilde e simples, porém, extremamente valiosa para a gastronomia, tanto quanto os nossos colegas do local que leva o seu nome.
Ao amigo Homero e ao Chef Nakahara, somente nos resta dizer:
Domo arigato gozaimashita (muito obrigado, sinceramente)!
Voltaremos em breve.
Jacques .'.

domingo, 23 de janeiro de 2011

O Rio de Janeiro visto pelo lado de fora... continua lindo!

Aproveitando a visita de um amigo de Aracaju, SE, resolvi dar uma de turista e acompanhá-lo num passeio de saveiro, a fim de ver o Rio de Janeiro pelo lado de fora.
Este tour é oferecido pela empresa Saveiros Tour, e sai diariamente da Marina da Glória as 9:00 horas, sendo que os ingressos podem ser comprados no escritório da empresa, ali mesmo.
O que me surpreendeu, ao entrarmos no saveiro, foi verificar que havia apenas uma guia para dois barcos, e que ela estaria viajando na outra embarcação.
Ora, é inconcebível que um grupo de 40 pessoas, entre estrangeiros e brasileiros, ficasse sem as explicações das belezas da paisagem que se descortinava a nossa frente, desde o momento em que o Pirata (nome do saveiro) zarpara do cais.
Assim, como num ato extremo de respeito aos coitados dos turistas que simplesmente foram largados ali, pedi ao comandante Ademar que me desse o microfone do barco para que eu fizesse o trabalho de guia.
Comecei verificando que o tour teria que ser descrito em Francês e Inglês, já que meu Alemão está por demais enferrujado e eu não me atreveria a usá-lo.
Desta forma, dei início ao meu trabalho de guia turístico gratuito, saudando as pessoas nos seus respectivos idiomas.
Usando de um  simples cumprimento, Good Morning Folks e um Bonjour Mes Amis, despertei a galera do seu desapontamento causado pela ausência de comunicação inicial, pois começaram a filmar e fotografar, alucinadamente, tudo aquilo que eu lhes ia explicando.
Naquele momento, ao olhar para o sorriso estampado na face das pessoas, lembrei-me dos meu tempos em que trabalhei como guia turístico, e, confesso, fiquei emocionado ao ver que, modéstia a parte, ainda continuava muito bom no que eu estava fazendo.
No início do tour, seguido pelas constantes aterrizagens e decolagens dos aviões no Aeroporto Santos Dumont, nos dirigimos para o Pão de Açúcar e o bairro da Urca, beirando o Aterro do Flamengo e a Praia de Botafogo.
Deslizando pelas águas da baía de Guanabara, dentro do Pirata, pude ter a magnífica visão deste importante cartão postal do Rio de Janeiro, que é o Pão de Açúcar, ofertado de forma graciosa pela Mãe Natureza!
Verdade que o tempo nos ajudou, pois o sol brilhava intensamente, fazendo com que a  baía de Guanabara, imunda e cheia de detritos, refletisse os seus raios como se fosse um local de águas límpidas e transparentes.
Em 1992, quando exerci o cargo de Gerente de Banquetes e Eventos do Hotel Caesar Park Ipanema durante o encontro sobre ecologia denominado ECO-92, já se falava da urgente despoluição da baía de Guanabara, porém, a inércia dos nossos governantes foi tanta que, mesmo tendo passado todos estes anos, podíamos vê-la ainda ali, boiando nas águas turvas e sem vida.
Continuamos o passeio indo em direção à Niterói, passando pela Fortaleza de Santa Cruz, navegando em águas serenas, após termos cruzado a linha  que demarca a entrada da baía, e por onde deveríamos seguir se quiséssemos navegar em direção à Copacabana.
Nosso saveiro seguiu seu roteiro passando em frente às praias de Jurujuba e Icaraí, de onde se pode ver o lindo e pomposo hotel que tem a forma de um  navio, estilo cruzeiro, seguindo depois para a Praia das Flechas, de onde desfrutamos do incrível visual da "nave espacial" do Museu de Arte Contemporânea, projetado pelo grande arquiteto Niemeyer, hoje com 103 anos e em plena atividade.
Lógico que nunca passaria despercebida a imensa ponte Rio-Niterói, com seus longos 14 km de extensão. Que obra fantástica!
Passamos bem em baixo do vão central, que tem 70 metros de altura, e em seguida, tomamos a direção do porto da Marina da Glória, que seria o ponto final do passeio.
Neste momento o sol já castigava bastante e o calor era bem forte, dentro e fora do barco, mesmo para quem estava sentado em baixo do toldo, que era o meu caso.
Assim, quando o comandante embicou a proa do Pirata para o Rio, começamos a vislumbrar o explendor do centro da cidade, onde se destacavam os cruzeiros ancorados no pier da Praça Mauá, o edifício conhecido como R.B.1 (Av. Rio Branco N° 1), a Praça XV, onde teve início a nossa cidade, destacando-se o restaurante Albamar, com sua estrutura de ferro octogonal, e sobre o qual já escrevemos neste blog.
Fomos nos aproximando lentamente do porto da Marina da Glória, dado ao intenso vai-e-vem dos iates e dos barcos que entravam e saiam deste ancoradouro.
Neste momento foi que ganhei o meu pagamento pelos serviços de guia que prestei, pois recebi diversos apertos de mãos e abraços dos turistas os quais ajudei a entender melhor das belezas naturais da nossa cidade.
Saímos dali com a "proa" do meu carro apontada para a Praça XV, a fim de podermos desfrutar, mais uma vez das delícias gastronômicas deste local.
Ao chegarmos, por sorte, já que o restaurante estava totalmente reservado, nos deram uma mesa com uma vista maravilhosa para tudo aquilo que acabáramos de contemplar durante o passeio no saveiro.
Perguntei pelo Paulo Correia, mas ele não estava, portanto, fomos recepcionados pelo Chef Adilson que mais uma vez demonstrou que não é bom somente na cozinha, mas, também, no que se refere a parte de relações públicas, com uma educação e gentileza dignas de pessoas com nobreza de espírito.
Deixamos ao seu encargo a confecção de um menu degustação onde pudéssemos desfrutar de uma sequência especial de pratos à base de peixes e frutos do mar.
Fomos informados de que ele nos estava preparando alguns pratos que estarão presentes somente no novo menu que entrará em cena no mês de fevereiro.
Não podíamos deixar de pedir, claro, uma porção dos bolinhos de bacalhau, e qual não foi a minha grata surpresa, quando vi que os mesmo estavam no formato que eu lhes havia sugerido na minha crônica anterior, inclusive, com menos sal, e incrivelmente saborosos.
Juro que eu poderia ficar ali o dia inteiro comendo daqueles bolinhos e olhando a paisagem, pois, tanto no formato, como no tempo de fritura, na textura, etc, o mesmo estava perfeito em tudo.
Logo depois chegou a entrada, que era uma linda salada composta de frutos do mar e peixes grelhados, acompanhada por um mix de folhas verdes. 
Nossa...como é fácil fazer algo bem feito e oferecer qualidade de comida mesmo com simplicidade!!
A salada estava excelentemente boa...parabéns Chef Adilson.
Ficamos na expectativa do que nos seria servido como prato principal, e, para ilustrar este momento especial, imagino que uma imagem valerá mais do que mil palavras...vejam:
Um saboroso risotto de arroz negro, com caudas de cavaquinha grelhadas e tomatinhos cereja!
Criatividade, bom gosto, quantidade sem exagero, enfim, tudo isto se chama respeito às regras básicas do bem servir.
Parabéns de novo, Chef Adilson.
Logo após, vem a sobremesa, composta por dois figos flamblés em whisky e acompanhados por um sorvete de creme, extremamente leves e incrivelmente refrescantes, e que harmonizavam perfeitamente com o que havíamos almoçado.
Pelo carinho e respeito que tenho pelo trabalho que está sendo desenvolvido no Restaurante Albamar, me permito fazer quatro comentários construtivos.
O primeiro está relacionado ao serviço, que está um pouco lento e desorientado, muito embora tivéssemos observado o profissionalismo do garçon cearense de Ipu, que demonstrou uma boa habilidade com o "alicate" no serviço à francesa que executou na mesa a nossa frente.
Mesmo que tratando-se de frutos do mar, os talheres de peixe são desaconselháveis, pois estes não foram feitos para cortar, ou seja, sugiro que usem os talheres normais para servir qualquer tipo de prato.
Existe uma regra básica em Gastronomia que deve ser seguida sempre:
Vai servir algum prato que resulte em espinhas, cascas ou ossos?
Então coloque sobre a mesa um pratinho de apoio para que as pessoas possam colocar nele aquilo que descartarem.
Os figos na sobremesa ficariam melhores se tivessem algum tipo de coloração, tipo alguma calda por cima deles após serem flambados, para que pudessem sobressair e dar vida ao prato.
Finalmente, o café expresso....este sim, falhou feio, pois veio morno e agüado...que pena!
Não devemos esquecer que grandes banquetes têm que ser bons do começo ao fim, e que o grand-finale sempre vem com o cafezinho, o digestivo e os petit-fours, portanto, qualquer falha neles, apagará o brilho de tudo que aconteceu antes.
Para aqueles que ainda não foram almoçar no Albamar, não sabem o que estão perdendo, como da mesma forma os que ainda não deram uma de gringo e foram ver o Rio de Janeiro pelo lado de fora!
Ambos são realmente imperdíveis!
Jacques .'.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Santa Térèze...Valhei-me!

Minha fé nos milagres gastronômicos do Restaurante Térèze, que foram revelados a pouco tempo atrás, através de uma reportagem publicada num jornal de grande circulação, fez com que eu pegasse a tortuosa Via Crucis que leva ao bairro de Santa Teresa, disposto a desfrutar de todas as energias gustativas que, supostamente, seriam ali encontradas.
Por pensar em cometer o pecado capital da Gula, mesmo que dentro da minha inocência de gourmet, imaginei que seria digno de um perdão, tamanha foi a maneira como a minha curiosidade (ai meu Deus, sempre ela), foi aguçada pelas palavras proferidas na tal reportagem, sobre este local.
Tive o cuidado de primeiro conversar com o Chef Damien Montecer, por telefone, já que ele é o detentor mor dos segredos do local e para saber se estaria presente na noite da nossa visita.
Como sou um profissional de Alimentos e Bebidas, sei que somente através do "Papa" é que alcançaríamos o nosso objetivo de sermos abençoados com um  menu especial do Chef, ao pé-da-letra, e cuja sequência de pratos, estaria sob sua total proteção.
Desta forma, reservamos uma mesa para três pessoas, sendo que ao chegarmos no templo sagrado, meio que perdidos e tropeçando na escuridão dos jardins mal iluminados do hotel, onde o mesmo está localizado, fomos saudados por uma jovem hostess, que nos informou sobre o fato de que o Chef Damien estaria a nossa espera, para poder nos brindar com algumas das suas sugestões, conforme havíamos combinado anteriormente.
Me senti muito prestigiado, e ao mesmo tempo honrado, diante de tão grande demonstração de respeito e carinho, ainda mais por saber que receberia uma atenção toda especial que seria dispensada pela autoridade maior do local.
Ficamos esperando por esta nobre visita, e nada do Chef,
Cobrando a sua presença, tão demorada, nos informaram que ele já havia ido embora a tempos, mesmo sem ter vindo, pelo menos, nos cumprimentar.
Durante o tempo que foi disperdiçado, aguardando a chegada do Chef, pelo menos aproveitamos para cumprir com a  nossa penitência, que foi a de aprender a equilibrar os desconfortáveis menus numa posição que nos permitisse lê-los, já que por terem a forma de talão de cheques, era muito difícil mantê-los eretos o tempo todo.
Após alguns minutos de concentração na leitura do mesmo, conseguimos penetrar no conhecimento das sacras opções de entradas, pratos principais e sobremesas, inclusive, escolhendo um vinho para o "marriage" com o que pretendíamos comer.
Subitamente, aparece um garçon que nos diz, no soar das trombetas:
- Senhores, não sei se é do seu conhecimento, mas, hoje é a última noite que estaremos servindo este cardápio, já que amanhã, começaremos com um outro, totalmente novo, portanto, infelizmente, não estão disponíveis esta noite, os pratos preparados com o Vitelo ou com as Codornas.
Meu corpo todo estremeu, pois, diante daquela revelação, com certeza senti que eu estava sendo castigado por todos os meus pecados do passado.
Na mesma hora, claro, entendi o por quê da furtiva saída do Chef,  à francesa, sem ter vindo a nossa mesa como prometido.
Certamente ele sabe que os milagres só acontecem com dia e hora marcados, e agregados das suas devidas bençãos.
Fiquei me questionando sobre como pôde o nosso prezado colega ter me omitido esta informação quando do nosso contato por telefone?
Me parece que seria mais sincero e coerente, já que sou um profissional desta área, que ele nos dissesse de forma sutil, para que trocássemos a data da visita, a fim de que pudesse nos atender melhor, o que seria mais prudente.
Neste momento, já injuriado diante deste fato embaraçoso, por casualidade olhei para a faca que estava bem a minha frente e notei que a mesma apresentava a ponta totalmente amassada e contorcida, talvez por ter caído no chão, ou, quem sabe, ter sido usada para apertar algum parafuso.
Isto demonstra que restaurante é uma soma constante de detalhes, e que estes devem estar associados ao treinamento contínuo daqueles que participam dos serviços, a fim de que entedam qual a importância de cada um dentro do contexto daquilo que estão fazendo.
O correto mesmo, e como manda o figurino, é que o gerente confira tudo antes de serem iniciados os serviços do dia, a fim de não colocar  os clientes, numa situação vexatória de ter que constatar uma negligência como esta.
Alem disto, também encontramos migalhas de pão sobre a nossa mesa, que certamente eram oriundas da multiplicação dos pães mordiscados por outros clientes, já que nós não tivemos contato algum com qualquer tipo deles.
No meu ouvido direito, o anjo bom sussurava que eu deveria ter fé e continuar ali, porém, no esquerdo, o danado do diabinho me gritava dizendo justamente o contrário.
Diante deste terrível impasse, decidi dar ouvidos ao anjo bom, acreditando que o Chef Damien, mesmo sem estar presente fisicamente, poderia, espiritualmente, colocar as mãos nas frigideiras e nos  oferecer um ágape inesquecível.
Acabamos por escolher três entradas diferentes, sendo uma delas o palmito pupunha fresco  grelhado, do qual estou meio que em dúvida se não é comprado em lata, com vinagrete de rapadura e salada de agrião e um queijo minas curado crocante.
Um dos colegas de mesa escolheu um tartare minute de salmão fresco com maçã verde, e o outro, um polvo grelhado com cuscuz marroquino.
Fomos unânimes em considerar que todas as entradas estavam boas, porém, era  notável que faltava ali a santa mão do Chef, principalmente, na escolha dos insumos.
Enquanto nossas suites estavam por vir, minha mente foi tomada de um sentimento de grande tristeza, por constatar que os "conceitos" atualmente empregados na maioria dos restaurantes, colocam as toalhas e seu inseparável co-irmão, o cobre-mancha,  numa condição de desnecessários e obsoletos, quando que na realidade eles jamais poderiam perder seus lugares no altar sagrado da elegância e da boa gastronomia.
Toda a mobília do restaurante era belíssima, construída com madeira de demolição, sendo que as cadeiras e mesas, com um design arrojado, davam um toque de requinte ao décor do local, porém, sobre as mesas não havia mais que um mero caminho de tecido de cor preto, e jogos americanos de palha trançada, oriundos da India ou Indonésia.
O que deve ser visto e entendido, para fazermos uma análise objetiva, é que virou moda convocar renomados arquitetos para projetarem os interiores de restaurantes, muito embora eles não entendam nada sobre a real necessidade da movimentação do serviço dos mesmos, donde se conclui que os espaços ficam lindos, porém, sem oferecerem as melhores condições de trabalho.
Um exemplo do que estou dizendo pode ser constatado através da luminária que pendia sobre a nossa mesa, com uma luz tão forte e que incidia direto nos meus olhos, me impedindo de ver com clareza todo o interior do restaurante, assim como a apresentação dos pratos escolhidos pelos meus colegas.
Voltando ao jantar, e ao "marriage", pedimos um vinho Sancerre, safra 2008, que mais uma vez chegou à mesa com a temperatura inadequada, e isto com a anuência do sommelier.
Como prato principal, dois de nós escolhemos o risotto del mare, com polvo, lula e camarão grelhados, arroz negro e mousseline de abóbora japonesa.
O terceiro membro da mesa optou por um risotto moqueca, com camarões flambeados em cachaça Magnífica, sendo o arroz misturado na base da própria moqueca.
Nossas considerações apontaram para esta idéia como sendo interessante e bem saborosa, porém, não podemos deixar de registrar nosso desapontamento por ver que nos outros risottos, as lulas estavam duras por demais, os polvos tão moles e sem textura, que jamais poderiam ser frutos de um preparação do dia.
Meio que desapontados, dado ao não acontecimento do tal milagre que nos deveria levar ao deleite, como foi o caso da profissional que escreveu para o jornal, e ainda para não incidirmos em mais comparações, decidimos pedir a mesma sobremesa para os três, que era um rocambole com cobertura "crumble", recheado com doce de leite, agregado de meio pêssego em calda, com um toque de vinho, e um sorvete que nos informaram ser de pêssego, mas, que do qual não conseguimos identificar este sabor, mesmo depois que o segredo nos foi revelado.
No final, recebemos a promessa por parte da gerência, de que certamente seríamos contatados pelo Chef Damien, que nos convidaria para retornarmos em um outro momento mais favorável, já que o menu que arrancou tantos elogios da jornalista, e que nos deu a sensação de podermos desfrutar de algo divino no Restaurante Térèze, foi feito exclusivamente para ela, objetivando, claro, a publicação na revista.
Ora, desta maneira, fica evidenciado que foi um "santo-do-pau-ôco" o autor dos milagres gastronômicos que levaram nossa colega, na sua crônica, à exaltação das qualidades do restaurante, o que me parece ser algo que poderia ser oferecido a todos os pobres mortais, desde que seja este o propósito do "Conselho dos Bispos".
Como diria meu falecido amigo Ibrahim Sued: - Gigi, eu chego lá!
Jacques .'.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

GERO - Quem me viu, quem me vê, quem me verá!

Recebi a visita de um amigo suíço que é proprietário de um restaurante bem conhecido em Lugano, chamado Grotto Grillo.
Segundo ele, o cronista gastronômico do importante jornal Corriere della Sera, publicou uma nota afirmando que o melhor foie gras da Suiça era servido no seu restaurante.
Assim, por ser uma pessoa do ramo, um importante Chef de Cozinha, na sua última noite no Rio me pediu para sugerir-lhe um bom local para irmos jantar.
Tracei algumas retas, curvas e tangentes, que apontaram para o renomado Gero, na expectativa de que neste local pudéssemos estar bem servidos, em todos os sentidos.
Gostaria muito que ele levasse daqui do Rio uma boa lembrança gastronômica, já que no jantar da noite anterior, no Porcão Rio's, mesmo com a promessa do meu amigo Almir, o gerente, de que iria zelar pela excelência das carnes e do serviço, tudo foi de uma mediocridade sem igual, resultando, inclusive, em três pessoas com problemas estomacais.
Bem, tomei o cuidado de ligar com antecedência para fazer a reserva de uma mesa, pois sei como funcionam as coisas por lá.
Chegamos na hora marcada e a nossa mesa já nos esperava, bem apresentada, e localizada logo na entrada do restaurante.
Como não queríamos pão, manteiga, etc, alguém colocou um carpaccio de carne no meio da mesa, sem nenhuma explicação para aquele ato, mais parecendo que houve um erro na hora de comandar, ou mesmo na hora de servir.
Bem, pensei, já que nos fizeram esta "gentileza", vamos prová-lo, lastimando que esta suposta cortesia fosse de um prato somente, já que não tinha sido coerente a maneira como ele havia sido servido para nós.
Ao colocar a rubra fatia de carne na boca, me dei conta de que minhas dúvidas anteriores tinham razão de existir, já que o mesmo estava imperativamente quente, como se tivesse ficado parado em algum lugar, sem destino, até que alguem teve a genial idéia de colocá-lo na nossa mesa.
Passado o impacto emocional desta constatação, abrimos mão da "gentileza" e partimos para a escolha dos pratos, onde, na verdade, as opções eram bem reduzidas.
Meu amigo suiço, ainda com os problemas causados pelo jantar da noite anterior, pediu, simplesmente, um spaguetti branco, sem nada, e uma vitela na chapa, com legumes salteados, muito embora o maître o quisesse demover da escolha, explicando que se a vitela não fosse empanada e frita, como está no cardápio, com certeza ficaria dura, porém, o suíço, com conhecimento de causa disse-lhe que era assim que que ele queria comer e pronto.
Ora, não pode existir um argumento deste num restaurante da categoria do Gero, afinal, que vitela é esta?
Eu e meu amigo resolvemos pedir de entrada os ravioles com recheio de pato e molho de laranja, e de suite, peixe, sendo que o dele vinha acompanhado com um risotto de aspargos frescos e o meu, en croûte, com risotto de palmito.
Indo diretamente ao ponto nevrálgico do tema, não entendo bem como um local assim tão especial, com fila na porta todos os dias, e que ganha prêmios e mais prêmios, se permite servir ravioles grotescos, grudados no fundo do prato, e pior, já pré-cozidos, ao invés de uma massa fininha e cozida na hora?
Detalhes como estes, permitidos de acontecerem no Gero, não o são em outros locais, talvez por não terem proprietários tão importantes e ricos.
Os peixes eram de qualidade, carne branquíssima, frescos, porém, de uma rara simplicidade, incomum para um local chique que deveria servir algo de mais requintado para fazer jus a sua fama.
Elogios, gostaria de fazê-los para os guardanapos, que eram grandes, bem passados, e de um tecido de extrema qualidade.
Uma reclamação, e gravíssima, vai para a taça Bourgogne que me trouxeram, pois a mesma estava simplesmente imunda, com restos de comida agarrados na sua base, ao ponto do sommelier suspirar de desgosto ao ver o que eu lhe mostrava, e me pedir mil desculpas.
Outra reclamação vai para o fato de cobrarem o estacionamento, que é terceirizado, na conta do jantar, e sobre o qual, claro, vem ainda a taxa de serviço, em cima de algo que não tem nenhuma relação com o restaurante, gastronomicamente falando.
Fico imaginando se eu, um mero mortal, fizesse algo do gênreo, se no dia seguinte, com certeza, não existiriam manchetes em todos os jornais aludindo a este fato.
A conclusão que podemos tirar desta noite é de que os "points" são criados com a anuência das pessoas que estão mais preocupadas em ver e serem vistas, e poder dizer a todos que estiveram num lugar badalado e caro.
Quem se atreve a fazer uma crítica declarada, mesmo que construtiva, à famosos restaurantes da cidade?
Ninguem quer se expor, portanto, comem e bebem sem se preocupar se está bom ou ruim, desde que seja nestes lugares, pois, em outros, com certeza, espalhariam de imediato o seu descontentamento.
Existem bons restaurantes no Rio, com cartas de vinho bem compostas, onde se come muito bem, mas, como não são badalados e nem paparicados pela mídia, permanecem no obscurantismo, porém, frequentados por quem quer comer bem, com bom serviço e preços justos.
Assim, penso que devemos ser mais exigentes e menos seletivos, para que possamos sair daqui e ir comer foie-gras em Lugano...creio que esta sim, é a pedida certa e chique!
Jacques .'.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Salitre (Ipanema)...O poder da mídia!

Um dia perguntaram ao magnata Nelson Rockfeller, um dos homens mais ricos do mundo, o que ele faria se lhe restasse apenas um dólar no bolso.
Sem pestanejar, respondeu: - Colocaria um anúncio no jornal falando bem de mim mesmo.
Pegando carona nesta declaração, vimos a nota que foi publicada no caderno Rio Show do jornal O Globo, exaltando as novas dependências do Salitre, na Barão da Torre.
Obviamente, sendo um profissional de Alimentos e Bebidas, o efeito desta notícia foi arrebatador dentro de mim, atiçando por demais a minha curiosidade.
Minha torcida era de que num local tão nobre em Ipanema, encontrássemos um novo restaurante que pudesse oferecer aos començais cariocas, um padrão de serviço e de qualidade de comida do qual nos ressentimos tanto dentro do modesto mercado de gastronomia carioca.
Ali chegando, eu e meu amigo percebemos, de cara, o bate-cabeças que rolava entre os vários funcionários do restaurante, onde um deles nos disse para que sentássemos numa mesa com 4 lugares a fim de que ficássemos mais confortáveis, e logo em seguida, vem um outro cidadão, correndo, separando a mesa em duas de dois, o que não permiti, claro.
Face à repercussão da nota publicada no jornal, o restaurante estava completamente lotado, e é justamente nestes momentos de pique que se pode avaliar a capacidade de bem servir.
Numa análise bem profissional, onde detalhes somam-se à detalhes para compor um todo, tivemos a tristeza de ver uma mesa de madeira, bonita, pesada, porém, sem nenhuma cobertura a mais do que um mero papel retangular que intitulam de "jogo americano" e sobre o qual apóiam a mise-en-place.
Cada vez que vejo este ato deplorável contra a elegância que a boa Gastronomia exige, me pergunto o por quê da sua existência.
Pelos preços praticados no Salitre, com certeza, se faz necessário o uso de uma linda toalha alva, bem passada, com um cobre-mancha de colorido bem leve, um solitário com uma linda flor e um guardanapo de tamanho grande, tipo 60 x 60 feito com o melhor algodão.
Como é possível preparar uma mesa para receber a sequência dos pedidos, se antes não limparmos com uma espátula os possíveis farelos que restaram dos pratos anteriores?
Com certeza, sem uma toalha posta sobre a mesa de madeira, não teremos como proceder a este passo tão importante de demonstração de higiene e finesse.
Falando na marcação da mesa com talheres, é preciso rever os do restaurante, já que o garfo é uma pluma de tão leve e a faca apenas um pouco mais pesada, não existindo nenhum equilíbrio entre ambos, o que é sentido facilmente nas mãos, e que é um detalhe imperdoável para quem conhece o prazer de comer com bons instrumentos.
Ao recebermos o cardápio, tivemos a triste constatação de que um garçon sabia mais que um maître, que deveria ser um consultor gastronômico, pois nenhuma das perguntas que lhe dirigimos era respondida sem que passasse primeiro pelo citado funcionário.
O entendimento da maneira como fizemos o nosso pedido foi algo que requereu muita paciência da nossa parte, pois ninguem entendia como planejávamos desgustar alguns pratos do menu.
Para acompanhar o jantar, pedimos a ajuda do sommelier no sentido de que ele nos desse uma boa sugestão de custo x benefício, o que resultou na escolha de um Nebbiolo d'Alba, razoável, que estava com sua temperatura um pouco acima do ideal.
O decanter, embora fosse da Spiegelau, era super pesado, pois destinava-se a receber o conteúdo de garrafas Magnum, e isto dificultou muito para que nós mesmos pudéssemos nos servir do vinho sem ter que chamar alguem para fazê-lo, já que ninguem se preocupou com este "pequeno" detalhe.
Começamos com um Revuelto de Pulpo, sobre o qual, na mesma hora, comunicamos ao maître a nossa insatisfação, pois o mesmo era puro coloral de tão amarelo (eles diziam ser açafrão, ai...meu D's) e super apimentado, ou seja, do polvo mesmo, somente o formato do seu tentáculo cortado em pedaços.
A seguir passamos para o grande momento do jantar, que foi a Conchigli ao Quatro Queijos com Shiitake Trufado, e o Nhoque de Milho com Ragu de Perdiz, ambos excelentes e de muito bom gosto. Parabéns!
Daí para a frente, infelizmente, criou-se um incrível desconforto.
O meu amigo pediu as Costeletas de Cordeiro Caramelizadas, na sequência da massa, e eu um Magret de Pato.
Por estar satisfeito após o prato das Conchiglies, ele cancelou as costeletas, porém, eu, na minha gulosa curiosidade, continuei firme na decisão de provar o Magret.
Antes tivesse feito como ele, já que o mesmo veio totalmente cru e frio (literalmente).
Fui obrigado a devolver o prato, até meio aborrecido diante do ocorrido, pois me frustei face à expectativa de que comeria algo de extrema qualidade.
Para não ficar feio e criar um clima ruím, sorri, e pedi então que me trouxessem as tais costeleas de cordeiro que meu amigo havia cancelado.
Embora super macias e seguramente de origem uruguaia, tipo Nirea/18, as mesma foram preparadas sem o menor cuidado de "ponto", já que duas delas estavam bem passadas e as outras duas cruas, ao pé da letra.
O tal caramelizado, juro que não sei do que se tratava, e o molho, bem...acho melhor não me referir a ele, pois todos os molhos do mundo se ofenderiam comigo se fossem comparados com aquilo que veio no meu prato.
Tentando ainda, num último suspiro, buscar algo que pudesse ser elogiado juntamente com as duas massas, pedimos de sobremesa uma Banana ao Forno com Sorvete, e duas colheres.
Que triste...a banana estava meio que verde e sem o ponto correto, enfim, sem mais delongas, poderia ser melhor, apenas uma questão de avaliação dos próprios cozinheiros.
A conta, com certeza, veio tão apimentada quanto o polvo, e o nosso aproveitamento do jantar, bem insosso.
A cobrança de 12% de serviço não correspondeu, de fato, ao que nos foi oferecido como tal.
Pelo menos, nesta nossa crônica, fica o alerta para que busquem um melhor treinamento dos funcionários, para que coloquem um gerente de salão que controle e comande o serviço nas mesas dos dois andares com energia e disciplina, que haja um cumin de união entre a cozinha e o salão (importantíssimo) e, finalmente, que pensem sempre no restaurante como sendo merecedor de finesse e conforto, pois a simples colocação de toalhas e cobre-manchas nas mesas, além de melhorar o visual, irá diminuir o barulho que resulta do impacto dos talheres, pratos, taças, etc, diretamente sobre a madeira nua das mesas.
Boa sorte Salitre...a casa merece este "plus"!
Tenho a certeza de que ainda promoverão a alegria de muitos adeptos da boa gastronomia no Rio de Janeiro.
Como dizia meu inesquecível amigo Ibrahim Sued: - Olho vivo que cavalo não desce escada!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Navegar é preciso....

Acordei me perguntando: - Que fazer no Reveillon?
Fogos em Copacabana....nem pensar!!
Hotel Fazenda?
Grande ilusão!
Os hoteleiros deste segmento endoidaram e estão cobrando preços fora da realidade para um produto que não tem o por quê de custar tão caro.
Então...
Que fazer?
Me veio à mente viajar novamente num cruzeiro com destino ao Prata!
Comecei a ligar para as companhias de cruzeiros e, pasmem, 4 meses antes, todas as saídas para esta data já estavam lotadas. E a crise, onde está?
Liguei então para a opção mais cara do mercado, a Royal Caribbean, que talvez por esta razão, ainda tinha disponibilidade para alguns tipos de cabines.
Assim, decidi embarcar nesta idéia e passar o Ano Novo à bordo do Splendor of the Seas, um lindo navio, meio velhinho, porém, que servia para o meu propósito.
O embarque foi no porto de Santos, SP, dia 26/12, onde circulavam, sem exagero, 22.000 pessoas ao mesmo tempo, pois haviam 7 cruzeiros atracados desembarcando os passageiros que retornavam de viagem e embarcando os que partiriam nesta data.
Um caos total!
Muitas pessoas ficaram quase 5 horas em filas mostruosas, num calor intenso, e sem ter com quem reclamar, pois, simplesmente, todos os funcionários do porto quando inqueridos sobre aquele castigo, apenas davam de ombros e saíam de perto.
Como é possível não haver num porto como o de Santos, guichês de check-in prioritários, para os casos de idosos,  gestantes,  pessoas com crianças de colo, e portadores de necessidades especiais?
Isto não contraria as nossas leis?
Eiiii....Concais....se liga nesta triste realidade!
As absurdas taxas portuárias que são cobradas, bastam, com certeza, para que possam ser oferecidos serviços mais dignos a todos que utilizam o importante Porto de Santos.
Alô Presidenta Dilma!
Como podemos pensar em um futuro grandioso para esta importante fonte de receita chamada Turismo, se não nos preocupamos em cuidar do turista de forma a que recebam um atendimento mais cordial, seguro e respeitoso?
Passado este tormento, finalmente consegui subir as "abençoadas" escadas do navio, desejando chegar logo na cabine e poder relaxar do esforço e tensão investidos neste embarque tenebroso.
Minha cabine, embora sem varanda, era confortável e estava sempre arrumada e limpa, tendo uma janela por onde se podia ver o que estava ocorrendo do lado de fora, além do fato de que estava muito bem localizada no navio.
Face a tudo que aconteceu, obviamente que partimos com um atraso considerável para Buenos Aires.
No primeiro dia, todo em alto mar, nada de especial, somente almoçar, jogar Bingo na piscina, jantar e ir assitir a um show sem graça, de apenas uma atração, onde um equilibrista francês, coitadinho, deixava cair seguidamente seus instrumentos de trabalho.
Tinha ainda o Casino Royale, que era o melhor do navio, sem dúvida, e que reunia um grande número de pessoas todas as noites nos seus muitos caça-níqueis, roletas, mesas de poker, black-jack, e que era composto por um time de profissionais muito divertidos, embora houvessem alguns deles, oriundos de países do leste europeu, com a cara bem fechada e incapazes de abrirem um breve sorriso.
Muita gente curtiu as atividades da piscina, e para tanto, deveriam seguir como cordeirinhos às ordens dos animadores da equipe de entretenimento mais sem graça (e arrogante) que eu já vi até hoje....ô gente chata!
Esse lance de ficar gritar: - Aí Brasil!! Acho que é coisa para show folclórico, e não uma maneira apropriada de saudar alguém dentro de um cruzeiro 5 estrelas.
No restaurante principal, chamado The King and I, a comida era boa, porém, sem ser algo de deixar ninguem de queixo caído.
No outro, menos formal, localizado no deck 9, ao lado da piscina, era um tumulto e uma falta de organização tão grande, que me deixou impressionado como isto podia estar acontecendo num cruzeiro caríssimo de fim-de-ano?
Para se pedir uma coca-cola, era o fim do mundo, sem dizer que, quase no finalzinho do cruzeiro, a bendita da latinha vermelha acabou, então, dá-lhe de empurrar Sprite na galera. Que vergonha!
Praticamente, toda a comida num navio é feita com antecipação, o que significa dizer que toda esta quantidade de pratos fica pré-preparada e guardada em geladeiras especiais para serem servidos a cada dia, como se fossem produtos congelados que são levados ao micro-ondas para aquecerem.
Os destaques, a nível de qualidade, foram todos para as saladas, já que todos os componentes eram de boa qualidade, e os molhos razoavelmente bons.
Dentro do restaurante principal, mesmo havendo uma sequência hierárquica de chefias, ninguém se preocupava com nenhum detalhe, principalmente no que diz respeito às toalhas e aos guardanapos que eram "jogados" em cima das mesas sempre extremamente amarrotados.
Eu mesmo recebi um guardanapo furado, por onde passava um dedo inteiro, talheres sem serem polidos,  alguns até já bem velhos e tortos, e ainda taças e copos com marcas de dedos.
Um dos guardanapos do restaurante principal que havia sido colocado sobre meu prato, dobradinho, quando o abri, estava tão amarrotado, mas tão amarrotado, que eu imaginei a negligência e o despreparo do suposto profissional que havia feito aquilo.
Interessante, mesmo, é que isto não ocorreu na mesa do comandante e seus oficiais, quando eles jantaram numa das noites no The King and I, e quando eu aproveitei para ir checar este ponto e me deparei com um serviço de primeira qualidade, tudo bem passado, arrumado, novinho, etc.
O pianista que tocava no jantar do primeiro turno, e que iniciava sua apresentação as 19:30 hs, com menos de uma hora de trabalho, já fechava o piano e ia tocar em algum outro lugar, o que era um atitude totalmente inexplicável e incoerente, já que deixava um vazio sonoro incrível no salão e a sensação de que estavam descobrindo um santo para cobrir outro.
Aliás, à nível de atrações artísticas, nunca vi uma cara de pau tão grande como a dos organizadores deste cruzeiro, pois todos os shows apresentados eram de uma mediocridade digna de um cabaré da Lapa, sempre com as mesmas pessoas, tanto bailarinos, como cantores, que se resumiam em apenas quatro de cada especialidade, e que se revessavam em deprimentes aparições.
Para se ter uma idéia do ridículo das apresentações, a peruca usada por uma das cantoras, de cor marrom (acreditem, pois é verdade), era maior que a sua cabeça.
Ninguém suportava mais ter que ver e ouvir as mesmas pessoas todas as noites, o que implicou, claro, numa redução expressiva do número de espectadores a cada dia.
Será mesmo que eles não conseguiriam montar um bom espetáculo para este cruzeiro de Reveillon, com um bom mágico, um cantor(a) especial, tipo um tenor e um soprano, com cenários, atrações circenses, etc?
Uma coisa muito boa mesmo era poder sair ao convés, a qualquer hora, ver a espuma das ondas do mar, sentir a brisa refrescante batendo no rosto, olhar o horizonte, ou contemplar a lua refletindo sua luz na imensidão negra do oceano.
Em Buenos Aires, fomos a um lindo show de tango, o qual considero como sendo o melhor da cidade, chamado Piazzolla Tango, e que está localizado na Galeria Guermes, que liga as "calles" San Martin e Florida, bem no centro.
Esta galeria foi a primeira a ser construída na cidade de Buenos Aires, e foi nela que viveu por um tempo o famoso escritor Antoine de Saint-Exupéry, autor do Pequeno Príncipe (Principito, como é dito por lá).
O teatro onde acontece o show é uma preciosidade de detalhes arquitetônicos, com balcões, frisas, uma verdadeira miniatura do Colón, e no seu palco desfilam cantores e bailarinos de primeiríssima qualidade.
A orquestra, com 3 bandoliones, 1 piano, 1 contra-baixo e 2 violinos, davam um show a parte, tamanha a qualidade dos músicos e a forma apaixonada como tocavam seus instrumentos.
Aconselho a todos os amantes dos belos espetáculos, que visitem este local quando estiverem em terras portenhas, pois, músicas de Astor Piazzolla estão inseridas, claro, no espetáculo, porém, o show é composto pelo melhor do tango de todos os tempos.
Um bom restaurante para comer excelentemente bem, tanto no almoço como no jantar é o Tomo 1, localizado no velho Hotel Panamericano, na Av. Carlos Pellegrini, onde pessoas de uma mesma família se incumbem de preparar pratos excelentes, com muito requinte e qualidade, além de possuirem uma distinta carta de vinhos.
Assim, após uma breve visita à movimentada Plaza de Mayo e ao decadente Caminito (triste, mas é verdade), deixamos a cidade dos "hermanitos" e zarpamos para Montevidéo, onde não se tem muito o que fazer a não ser caminhar pela Av. 18 de julio, visitar o comércio, e ir ao Shopping de Punta Carretas.
Para quem aprecia uma carne "muy" especial recomendamos o Restaurante Palenque, localizado no Mercado del Puerto, onde estão inúmeros outros estabelecimentos gastronômicos que oferecem belos cortes de carne  preparadas na "parrilla" do tipo uruguaia, que, diferentemente da argentina, não são colocadas diretamente sobre o fogo, apenas peguam o calor pelas laterais.
Neste local pedimos um "bife de ancho con hueso", que veio no ponto certo, bem quente, e era de uma maciez impressionante.
Dali, continuamos o cruzeiro até o famoso balneário de Punta del Este, onde fazia um calor das Arábias.
Uma coisa que muito me surpreendeu foi o "abuso de poder" que observei dentro do Hotel Casino Conrad, onde 2 meras Coca-Colas custaram a bagatela de USD 18,00, e onde uma aposta mínima na roleta era de (pasmem) USD 10,00.
Mesmo assim, estava repleto (100 % de ocupação) de brasileiros considerados VIP's, e que tinham inúmeras mordomias oferecidas pelo casino por serem bons jogadores.
Creio que o nosso Brasil deveria deixar de ser hipócrita e legalizar o jogo o mais rápido possível, a fim de não deixar todo este povo sair do país para gastar seus dólares em terras estrangeiras, já que não existe nehuma diferença entre apostar num casino ou nos jogos existentes no país, tipo a Mega-Sena, a Quina, a Lotofácil, e todos os outros seus similares, como também as corridas de cavalo, a Loteria Federal, e no tão combatido "highlander" Jogo do Bicho, isto sem contar os inúmeros Bingos que ainda resistem bravamente na clandestinidade.
A noite de Reveillon, supostamente um Gala Night, foi de uma simplicidade ímpar, pois o que se viu ali era de uma cafonice e mal gosto total, sendo que à meia-noite um dos elevadores panorâmicos do navio pára no deck 4, onde se fazia a famosa contagem regressiva, e de dentro dele sai um cara magrelo, com cabelo loiro oxigenado, que vestia apenas um fraldão branco (amarrotado) e com uma chupeta na boca, simbolizando o Ano Novo que acabava de chegar.
Com certeza todos já adivinharam que se tratava de um dos bailarinos que fazia os shows, certo?
Pasmem, mas é isto mesmo!!
Imaginem que esta "coisa" foi entrevistado, filmado, e este "momento especial" foi inserido no DVD que estava sendo vendido e anunciado como uma "recordação maravilhosa das suas explêndidas férias".
Tétrico e ridículo talvez seja pouco para definir esta cena deplorável!!
Bolas brancas eram atiradas dos andares mais altos, e as pessoas abriam suas champagnes, desesperadas, como se fossem morrer caso não arrancassem as danadas das rolhas das garrafas.
O Diretor de Entretenimento do navio era um brasileiro que sempre se apresentava como "Eu sou o João".
Numa das noites, vestindo uma camiseta com a frente toda bordada de brilhosas lantejoulas (risos), dançava alucinado uma coreografia ensaiada, sob o ritmo dos anos 70, acompanhado de todos os seus pupilos, nas escadas que davam acesso ao deck 4, num local denominado Centrum, tentando incentivar as pessoas para entrarem naquele embalo.
Assim, após sete noites de viagem, vários Bingos sem graça, Karaokês inexpressivos, e que eram mais usados pelos próprios tripulantes do navio para se divertirem entre si, shows deprimentes e repetidas massas com molho marinara, salmão defumado e consommés de caldo Knnor, chegamos ao porto de Santos em baixo de um temporal digno de Sampa.
Conclusão e conselho:
Façam um cruzeiro na Europa, e vejam a diferença!
O que as empresas de atrativos marítimos oferecem para o turista brasileiro jamais será ofertado em qualquer outro lugar do mundo, pois todas sabem muito bem dos sérios problemas que iriam ter com as reclamações, mas, como aqui somos o 3° mundo, tudo é válido pois tudo é aceito.
Talvez, isto seja decorrente do fato de que muita gente que viajava no navio não tinha o conhecimento de coisas boas, ou até mesmo porque são poucos, no Brasil, aqueles que sabem exigir pelo que pagaram.
Nem sempre o silêncio quer dizer que aceitamos o que nos deram, mas apenas uma maneira de agir de algumas pessoas que têm o receio de passarem por chatas ou despreparadas.
Atenção tripulação!
Levantar âncora!
Vamos voltar agora para o sério e querido Velho Mundo!
Comecem passando muito bem as toalhas e os guardanapos, contratem mais pianistas e bons artistas para os shows, coloquem os vinhos na adega (vinho tinto servido na temperatura ambiente só são oferecidos nos cruzeiros que partem do Brasil), não esqueçam de comprar flores diferentes a cada porto para enfeitarem as mesas todos os dias, desenhem cardápios que ofereçam melhor comida, com qualidade e boa apresentação, contratem profissionais de verdade para todos os setores, e parem de ficar incentivando os passageiros a darem mais gorjetas, pois estas  já foram arrecadadas antecipadamente.
Ahhh, a tempo, coloquem artigos de qualidade para serem vendidos nas lojas, pois "xepa" de produtos asiáticos à USD 15,00, ninguém compra lá na Europa!
Hasta la vista hermanos!
Jacques .'.