domingo, 9 de janeiro de 2011

Salitre (Ipanema)...O poder da mídia!

Um dia perguntaram ao magnata Nelson Rockfeller, um dos homens mais ricos do mundo, o que ele faria se lhe restasse apenas um dólar no bolso.
Sem pestanejar, respondeu: - Colocaria um anúncio no jornal falando bem de mim mesmo.
Pegando carona nesta declaração, vimos a nota que foi publicada no caderno Rio Show do jornal O Globo, exaltando as novas dependências do Salitre, na Barão da Torre.
Obviamente, sendo um profissional de Alimentos e Bebidas, o efeito desta notícia foi arrebatador dentro de mim, atiçando por demais a minha curiosidade.
Minha torcida era de que num local tão nobre em Ipanema, encontrássemos um novo restaurante que pudesse oferecer aos començais cariocas, um padrão de serviço e de qualidade de comida do qual nos ressentimos tanto dentro do modesto mercado de gastronomia carioca.
Ali chegando, eu e meu amigo percebemos, de cara, o bate-cabeças que rolava entre os vários funcionários do restaurante, onde um deles nos disse para que sentássemos numa mesa com 4 lugares a fim de que ficássemos mais confortáveis, e logo em seguida, vem um outro cidadão, correndo, separando a mesa em duas de dois, o que não permiti, claro.
Face à repercussão da nota publicada no jornal, o restaurante estava completamente lotado, e é justamente nestes momentos de pique que se pode avaliar a capacidade de bem servir.
Numa análise bem profissional, onde detalhes somam-se à detalhes para compor um todo, tivemos a tristeza de ver uma mesa de madeira, bonita, pesada, porém, sem nenhuma cobertura a mais do que um mero papel retangular que intitulam de "jogo americano" e sobre o qual apóiam a mise-en-place.
Cada vez que vejo este ato deplorável contra a elegância que a boa Gastronomia exige, me pergunto o por quê da sua existência.
Pelos preços praticados no Salitre, com certeza, se faz necessário o uso de uma linda toalha alva, bem passada, com um cobre-mancha de colorido bem leve, um solitário com uma linda flor e um guardanapo de tamanho grande, tipo 60 x 60 feito com o melhor algodão.
Como é possível preparar uma mesa para receber a sequência dos pedidos, se antes não limparmos com uma espátula os possíveis farelos que restaram dos pratos anteriores?
Com certeza, sem uma toalha posta sobre a mesa de madeira, não teremos como proceder a este passo tão importante de demonstração de higiene e finesse.
Falando na marcação da mesa com talheres, é preciso rever os do restaurante, já que o garfo é uma pluma de tão leve e a faca apenas um pouco mais pesada, não existindo nenhum equilíbrio entre ambos, o que é sentido facilmente nas mãos, e que é um detalhe imperdoável para quem conhece o prazer de comer com bons instrumentos.
Ao recebermos o cardápio, tivemos a triste constatação de que um garçon sabia mais que um maître, que deveria ser um consultor gastronômico, pois nenhuma das perguntas que lhe dirigimos era respondida sem que passasse primeiro pelo citado funcionário.
O entendimento da maneira como fizemos o nosso pedido foi algo que requereu muita paciência da nossa parte, pois ninguem entendia como planejávamos desgustar alguns pratos do menu.
Para acompanhar o jantar, pedimos a ajuda do sommelier no sentido de que ele nos desse uma boa sugestão de custo x benefício, o que resultou na escolha de um Nebbiolo d'Alba, razoável, que estava com sua temperatura um pouco acima do ideal.
O decanter, embora fosse da Spiegelau, era super pesado, pois destinava-se a receber o conteúdo de garrafas Magnum, e isto dificultou muito para que nós mesmos pudéssemos nos servir do vinho sem ter que chamar alguem para fazê-lo, já que ninguem se preocupou com este "pequeno" detalhe.
Começamos com um Revuelto de Pulpo, sobre o qual, na mesma hora, comunicamos ao maître a nossa insatisfação, pois o mesmo era puro coloral de tão amarelo (eles diziam ser açafrão, ai...meu D's) e super apimentado, ou seja, do polvo mesmo, somente o formato do seu tentáculo cortado em pedaços.
A seguir passamos para o grande momento do jantar, que foi a Conchigli ao Quatro Queijos com Shiitake Trufado, e o Nhoque de Milho com Ragu de Perdiz, ambos excelentes e de muito bom gosto. Parabéns!
Daí para a frente, infelizmente, criou-se um incrível desconforto.
O meu amigo pediu as Costeletas de Cordeiro Caramelizadas, na sequência da massa, e eu um Magret de Pato.
Por estar satisfeito após o prato das Conchiglies, ele cancelou as costeletas, porém, eu, na minha gulosa curiosidade, continuei firme na decisão de provar o Magret.
Antes tivesse feito como ele, já que o mesmo veio totalmente cru e frio (literalmente).
Fui obrigado a devolver o prato, até meio aborrecido diante do ocorrido, pois me frustei face à expectativa de que comeria algo de extrema qualidade.
Para não ficar feio e criar um clima ruím, sorri, e pedi então que me trouxessem as tais costeleas de cordeiro que meu amigo havia cancelado.
Embora super macias e seguramente de origem uruguaia, tipo Nirea/18, as mesma foram preparadas sem o menor cuidado de "ponto", já que duas delas estavam bem passadas e as outras duas cruas, ao pé da letra.
O tal caramelizado, juro que não sei do que se tratava, e o molho, bem...acho melhor não me referir a ele, pois todos os molhos do mundo se ofenderiam comigo se fossem comparados com aquilo que veio no meu prato.
Tentando ainda, num último suspiro, buscar algo que pudesse ser elogiado juntamente com as duas massas, pedimos de sobremesa uma Banana ao Forno com Sorvete, e duas colheres.
Que triste...a banana estava meio que verde e sem o ponto correto, enfim, sem mais delongas, poderia ser melhor, apenas uma questão de avaliação dos próprios cozinheiros.
A conta, com certeza, veio tão apimentada quanto o polvo, e o nosso aproveitamento do jantar, bem insosso.
A cobrança de 12% de serviço não correspondeu, de fato, ao que nos foi oferecido como tal.
Pelo menos, nesta nossa crônica, fica o alerta para que busquem um melhor treinamento dos funcionários, para que coloquem um gerente de salão que controle e comande o serviço nas mesas dos dois andares com energia e disciplina, que haja um cumin de união entre a cozinha e o salão (importantíssimo) e, finalmente, que pensem sempre no restaurante como sendo merecedor de finesse e conforto, pois a simples colocação de toalhas e cobre-manchas nas mesas, além de melhorar o visual, irá diminuir o barulho que resulta do impacto dos talheres, pratos, taças, etc, diretamente sobre a madeira nua das mesas.
Boa sorte Salitre...a casa merece este "plus"!
Tenho a certeza de que ainda promoverão a alegria de muitos adeptos da boa gastronomia no Rio de Janeiro.
Como dizia meu inesquecível amigo Ibrahim Sued: - Olho vivo que cavalo não desce escada!

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