domingo, 17 de abril de 2011

Coisas boas na telona...até que enfim! (PARTE B)

Quando alguem sai de casa para ir ao cinema, a expectativa é de que ao final da projeção haja uma sensação de prazer diante da arte que foi ali apresentada.

Nesta avaliação, obviamente que entram diferentes pontos de referência, como a fotografia, os costumes, o relato, os diálogos, os locais de filmagem, e, óbvio, a própria história do filme.

Ao ir assistir ao filme Incêndios, com certeza o espectador jamais imaginará que ao término da apresentação terá visto a um grande show de fortes emoções, adicionadas à situações surreais e de cenas impactantes, com suspense, terror, e ainda a uma excelente trama que deixa claro a  nossa total incapacidade de entendimento do que é viver, efetivamente, no meio de uma guerrilha num país como o Líbano.

Grande atuação de Lubna Azabal que faz o papel de Nawal Marwan, uma mulher que se apaixona por um jovem que por não ser da mesma facção religiosa da sua família, é morto por seus irmãos com um tiro na cabeça, à queima roupa, diante dela, no momento em que se encontravam para fugir.

O que o destino não revelara é que Nawal estava grávida e, soemente com a ajuda da avó foi que conseguiu concluir a gestação e dar à luz a um menino que seria tirado de perto dela logo após o parto.

A avó, numa tentativa de permitir à neta ter uma referência que pudesse identificar o menino, se o encontrasse no futuro, marca o calcanhar do garoto com uma tatuagem de 3 desenhos sobrepostos.

Sofrendo com esta situação, e nada podendo fazer diante do que lhe era imposto, Nawal é enviada à casa de um tio, onde fica morando com os membros da família até que decide sair a procura do tão amado filho, e a quem havia jurado um dia encontrar.

Assim, começa a saga da jovem que enfrentará as atrocidades de uma guerra sem sentido, movida pelas facções libanesas do lado mulçumano e do católico, passando por momentos de verdadeiro horror, como por exemplo a matança de pessoas inocentes que estavam com ela dentro de um ônibus, e que fora metralhado.

As únicas três sobreviventes desta atrocidade foram ela e uma senhora com a filha.
Ao ver que o ônibus seria incendiado, ela mostra seu crucifixo e se apresenta como cristã e tenta levar com ela a filha da tal senhora como se fosse sua, porém, a menina escapa de suas mãos e corre em direção ao ônibus em chamas, clamando pela mãe, o que faz com que um dos homens simplesmente aponte sua arma para a criança que cai fulminada pelo tiro certeiro.

Todos saem do local, menos Nawal que fica ali, ajoelhada, em estado de choque, até que consegue se recuperar e busca forças na idéia do encontro com o filho para poder seguir adiante.

Deste dia em diante sua vida vira um misto de vingança e de ódio contra todos aqueles que promoviam, tranquilamente, estas lutas desumanas e sem sentido, e para concretizar sua determinação  de poder se vingar de tudo que vivera, consegue se tornar professora de Francês do filho do homem mais poderoso de um dos lados, até que recebe uma ordem para matá-lo, oriunda do chefe do seu partido.

Ao fazer isto é imediatamente presa e enviada a uma prisão onde sofreria uma série de dolorosas torturas que, obviamente, a deixarão perturbada, mas, cantando, consegue reunir forças para suportar a dor que lhe é imposta, o que acaba por render-lhe o apelido na prisão de "A mulher que canta".

Após 16 anos de muito sofrimento, é libertada e vai para viver no Canadá, onde ficaria morando com seus dois filhos até morrer.
Esta narrativa corre paralela a outra, onde seus dois filhos gêmeos, Jeanne e Simon, são chamados ao escritório do notário Lebel, local onde Nawal trabalhara por muitos anos, a fim de que fosse lido o testamento.

Surpreendentemente, ela revela aos filhos que o pai, supostamente morto, está vivo e que eles têm um irmão, e que faz questão de que sejam ambos sejam achados e que cada um deles receba uma carta com um texto dirigido a eles, dentro de um envelope lacrado, que não deveria ser aberto de forma alguma.

Dizia aind que seu desejo seria ser enterrada de cara para baixo, nua, e que nenhuma lápide fosse colocada no local do seu sepultamento, até que seu desejo fosse concretizado, o que implicaria no empenho dos filhos para localizar ao pai e o irmão.

Jeanne, mais que Simon, toma a frente dos desejos da mãe e viaja para o Oriente Médio a fim de descobrir o que estaria por trás destes segredos somente agora revelados pela mãe falecida.
A duas histórias, seguem sendo narradas de forma paralela, e vão se unindo na emoção dos relatos e em função de cada uma das descobertas que vão sendo feitas sobre o paradeiro do pai dos gêmeos e do irmão.

Não vou contar como termina o filme, mas vou recomendar veementemente que o mesmo não seja perdido, pois, dificilmente vemos produções tão bem feitas, e que no final da projeção ninguem se move dos seus assentos meio que atordoados diante da perplexidade pelo que foi visto nas cenas mais fortes, assim como o resultado das descobertas.

Imperdível!


Coisas boas na telona...até que enfim! (PARTE A)

Depois de tanto tempo sem que tivéssemos o que ver de interessante na telona do cinema, eis que aparecem filmes maravilhosos e que não podem ser perdidos.

Irei comentar sobre dois, daí a razão deste primeiro ser chamado de parte A.

O nome do filme é Contracorrente, de origem peruana, que tem uma fotografia interessante, diálogos simples, e notadamente uma modéstia financeira que, mesmo assim, não tiraram do mesmo o glamour de um espetáculo repleto de momentos de intensa emoção e de incentivos a uma auto-reflexão.

A história se passe num vilarejo da costa norte peruana, de nome Cabo Branco, onde Miguel (Cristian Mercado) é um simples pescador, casado com Mariela (Tatiana Astengo), que está grávida e perto de dar à luz ao primeiro filho do casal.

Neste mesmo local vive Santiago (Manolo Cardona), um jovem artista oriundo da capital, fotógrafo e pintor, que sempre visitava Cabo Branco, porém, acabou decidindo estabelecer-se ali face ao amor que nutria por Miguel.

Mesmo diante de todos os riscos e dificuldades, já que um homem amar outro homem é extremamente complicado, além de ser muito difícil de conviver com esta situação, Miguel se divide entre a figura do marido fiel, de futuro papai, uma pessoa de respeito no povoado, convocado para todos os momentos de maior expressão da comunidade, e o papel de amante de Santiago.

Logicamente, que os momentos que passava ao lado de Santiago eram vividos com muita intensidade, e isto lhe dava a certeza da sua opção sexual, mas, conviver com a situação de marido e futuro pai lhe era altamente conflitante, asfixiando-lhe a alma.
Seu sofrimento era grande, porém nada podia fazer diante daquela situação onde a força do seu amor e a realidade da sua vida, conflitavam intensamente dentro dele, sem que houvesse uma luz que lhe apontasse uma solução para esta grande verdade dentro dele, ou seja, libertar-se da mentira que era obrigado a viver.

Dado a sua índole de homem de bem, decidiu que tinha que buscar uma maneira de tentar expor sua verdade para todas as pessoas, independentemente das discriminações que seriam geradas em função desta revelação.

Eis que inesperadamente, Santiago sofre um acidente e morre nas águas de Cabo Branco, e segundo a tradição local, sua alma não encontraria descanso até ser encomendada à Deus, e seu corpo atirado ao mar após uma prece.

Mas quem faria esta demonstração de carinho e afeto por um homossexual que era desprezado por todos os integrantes daquela pequena cidade?

Assim meio que numa cópia de Dona Flor e seus dois Maridos, somente Miguel conseguia vê-lo, tocá-lo, sentí-lo e conversar com êle.

Se Miguel pensasse nele, ou desejasse sua presença, imediatamente ao seu lado aparecia o espírito de Santiago, o que promovia uma sensação de prazer ao pescador, já que aparentemente, desta forma, poderia ter a companhia de Santigao sem tomar as rígidas precauções como no passado.

Assim, sem ser cumprido o ritual de encomenda do corpo de Santiago, conforme a tradição do vilarejo, sua alma continuaria vagando ao lado de Miguel.

A cada dia, mesmo após o nascimento do filho, este sentia que em algum momento teria que "abrir o jogo" com a esposa e poder dar ao seu grande amor a paz que necessitava, e que não conseguiria ao mesmo tempo, encontrar a sua própria paz, se a dor das mentiras e das simulações  perdurassem por muito tempo.

Quando o corpo de Santiago aparece preso na rede de um barco de pescadores da aldeia, Miguel se vê diante do grande dilema da revelação confessa, já que a casa do artista tinha sido invadida por um casal de namorados, que buscavam um local para transar, e se depararam com as inúmeras pinturas do pescador, despido, em locais pouco explorados do povoado.
Miguel decide então revelar tudo e enfrentar a perda da esposa que parte com o filho, e ainda toda a revolta do povoado que o despreza e desconsidera por ter tido relações sexuais com outro homem.

Mesmo com toda as pressões que lhes estavam sendo impostas, Miguel decide proceder ao ritual de encomenda do corpo de Santiago, e surpreendentemente acaba por contar com o apoio do padre e de alguns moradores do vilarejo que decidem acompanhar o cortejo.

Desta maneira, ao final da prece, já no seu barco levando o corpo de Santiago para ser jogado em alto mar, e chorando sobre o cadáver do seu verdadeiro amor, eis que este lhe faz sua derradeira aparição para dar-lhe um beijo emocianante e cheio de ternura, não sexual, claro, mas de agradecimento pela demonstração do grande amor que Miguel demonstrara ter por ele, ao proceder ao ritual, e que revelava publicamente a união dos dois.
Grande atuação de todo o elenco que dá muita veracidade ao enredo do filme, de uma forma simples, porém, com muita emoção e sem momentos piegas.

Imperdível!