quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Meus Orgulhos...tenho razão para tê-los! (Parte B)

Uma das grandes virtudes do ser humano, creio eu, é acreditar nas pessoas e dar-lhes a chance de expor seus pensamentos, os pontos de vista, saber escutá-los e poder separar o joio do trigo.
Tenho tentado agir assim o maior tempo possível, já que a vida me fez ver que um Gerente somente será bem sucedido, se ele for respeitado pela admiração que seus subalternos terão por ele, pois na base da força ou da imposição, estaremosdiante de uma gestão de mêdos e inseguranças, o que, certamente, acabará por criar uma administração comparável às do tempo "das chibatadas".
Portanto, baseado nisto, gostaria de relatar um fato que considero como sendo uma grande conquista minha, uma vitória, e um motivo de muito orgulho.
Certa ocasião, trabalhando num restaurante importante, também na função de Gerente Operacional, tive que recompor quase toda a equipe, em função de inúmeros problemas detectados na operação, e para os quais jamais poderia manter meus olhos fechados.
Assim, colocamos um anúncio no jornal convocando profissionais para os cargos de garçons, maîtres e cumins.
Com cada pessoa que eu entrevistava, tentava manter com elas um contato olho-no-olho, pois, realmente, como os olhos são o espelho d'alma, me seria possível detectar  se  haviam inverdades escritas nos CV e nas suas narrativas.
Entrevistei diversas pessoas e percebi que muitos deles não valeria a pena aceitá-los, dado à problemas de ordem emocional, cansaço, ou problemas de bebida, enfim, diferentes situações que não combinavam com o astral que eu queria ver nos candidatos para a formação daquela nova equipe.
No meio deste tanto de gente, apareceu um rapaz, simpático, muito formal, que me disse assim:
- Boa tarde senhor, estou aqui para me candidatar à vaga de garçon.
Respondi:
- OK... pode se sentar e deixe-me ver o seu CV.
Ao lê-lo, surpreendi-me, já que ele nunca havia trabalhado de garçon !!
O máximo que ele havia feito, dentro do ramo de Alimentos e Bebidas, tinha sido como ajudante de barman, o que, obviamente, estaria totalmente fora do perfil o cargo de garçon por ele pretendido.
Expliquei-lhe que não poderia aceitá-lo face a minha necessidade de contratar profissionais com experiência, e que pudessem me ajudar a recompor, urgentemente, a equipe do restaurante, já um tanto desfalcada.
Não conformado com a minha resposta, seguiu insistindo, ponderando que mesmo sem experiência na função ele amava a gastronomia, que era seu sonho poder trabalhar num restaurante daquele porte, que iria se esforçar ao máximo para poder fazer jus a minha possível ajuda, que estudava inglês, etc, etc,...
Como disse no começo desta narrativa, algo me chamou a atenção neste rapaz, pois, olhando-o bem dentro dos olhos, senti que ele estava sendo super verdadeiro, e que a demonstração dos seus sentimentos de amor a esta profissão eram sinceros.
Num lampejo de coragem, ou de loucura, sei lá, lhe disse assim:
- Veja, companheiro, você conseguiu fazer com que eu mudasse meu critério de admissão, pelo menos no seu caso. Não sei o por que, mas algo me diz que você será um bom profissional, e é disto que estou precisando, pessoas sem vícios, honestas e que queiram realmente trabalhar e somar comigo e com o restaurante.
Vou colocar você direto como garçon, quando na realidade, o correto mesmo seria como cumin, portanto, se você não der certo, não me restará outra opção a não ser dispensá-lo.
Então....topa o desafio de me ter no seu pé, direto? (risos)
Ele respondeu, todo formal - (Ipsis litteris)
- Será uma honra para mim poder aprender a trabalhar num restaurante deste nível com um profissional assim, como o senhor, já que pela sua atitude e comportamento, pude perceber que se trata de um homem de caráter, e ainda pela maneira respeitosa que dispensa às pessoas.
E assim, o senhor X, conseguiu que eu o admitisse como garçon no restaurante.
Logo no primeiro dia, percebi que ele tinha um bom equilíbrio com a bandeja, que era super atencioso com os clientes, que prestava atenção em tudo que acontecia ao seu redor, e, o mais importante, seguia ao pé da letra todas as orientações que eu lhe passava.
Com o tempo, fui percebendo que meu instinto de observação, associado a um certo "faro" adquirido nos muitos anos de trabalho em hotelaria, gastronomia e eventos, fizeram com que, do nada, eu tivesse conseguido um bom garçon.
Sim, pois sem nenhuma experiência ou qualquer outro adjetivo, o senhor X se tornou o melhor garçon do restaurante... pasmem, mas é verdade!
Algum tempo depois saí deste restaurante para ir trabalhar num hotel 5 estrelas como Gerente de Alimentos e Bebidas, e deixei o senhor X trabalhando como garçon, aos cuidados de um colega que convidei para ocupar o meu lugar.
Um dia, num sábado à tarde, me encontrava no cabeleireiro, quando o celular tocou, e ao olhar no bina, aparecia o nome dele na tela.
Atendi, e saudei-o, perguntando-lhe a que devia o prazer da sua ligação.
Este me responde:
- Senhor Jacques, estou ligando para poder dedicar-lhe a visão que estou tendo neste momento!
Surpreso, intrigado, e sem entender nada, perguntei-lhe:
- Dedicar-me a visão que você está tendo agora? Você está ficando maluco? (risos)
Ele me disse.....não, senhor, é ao pé-da-letra mesmo o que eu estou falando, pois quero dedicar ao senhor a visão que estou tendo neste instante, de mim mesmo, refletida num espelho da loja Borelli, do Shopping Leblon, onde acabei de fazer os ajustes no terno que irei usar a partir de hoje pois fui promovido à MAITRE do restaurante.
Sinto que devo esta minha conquista ao senhor, portanto, esta felicidade de poder me ver assim, com uma roupa elegante, e pronto para um desafio desta natureza, é que eu queria dedicá-la ao senhor, para soubesse que o considero o responsável por esta minha ascensão.
Obviamente que fiquei sem palavras diante de tal atitude, e demorei a me recuperar da emoção que aquela ação nobre me havia causado.
Quando consegui falar, mesmo com a voz um tanto embargada, somente pude dizer-lhe que agradecia tamanha demonstração de respeito, amizade e consideração, porém, que tomasse cuidado com o sucesso, pois muitas pessoas não sabem lidar com isto, e que dali para frente usasse com todos os seus subaltermos, os mesmos critérios de paciência e ensinamentos que eu havia utilizado com ele.
Boa sorte senhor MAITRE, e que sua mãe continue orgulhosa de você, pois você é que é o verdadeiro merecedor da conquista que obteve.
Conte comigo, sempre!
Jacques .'.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Meus Orgulhos...tenho razão para tê-los! (Parte A)

Como diz Fernando Pessoa num de seus fabulosos e sinceros poemas:
- Nunca conheci alguém que afirmasse que levou porrada, que perdeu, que caiu, que ficou em situação de inferioridade diante de outra pessoa, que sentiu vontade de chorar e o tivesse feito, enfim, que fosse gente de verdade.
Eu mesmo, certamente, também mantive esta postura machista muitas vezes, já que sou um ser humano, porém, tenho a convicção de que tentei acertar mais do que errei, que visei o interesse dos outros mais do que aos meus próprios, que incentivei muitas pessoas a crescerem socialmente, que passei-lhes informações e conhecimentos, e que me alegrei com as suas vitórias e conquistas.
Neste momento, faço a escolha de um fato ocorrido na minha vida profissional, do qual muito me orgulho, e que gostaria de poder compartilhá-lo com todos aqueles que visitarem meu blog.
Assim, irei contar esta pequena história que está relacionada com o tema do preâmbulo.
Para manter o anonimato dos personagens e dos locais não mencionarei seus nomes, apenas os fatos.
Certa ocasião, trabalhei como Gerente Operacional de um restaurante super badalado, onde a frequência maior era de "globais", desembargadores, juízes, empresários, homens públicos, etc.
Meu trabalho, basicamente, consistia na supervisão da dinâmica do serviço, e na qualidade do atendimento ao cliente, a fim de que ambos estivessem à altura do imponente nome da casa.
Quando comecei a trabalhar neste local, deparei-me com um restaurante que funcionava, realmente, a todo vapor, mas, que começava a perder o glamour de outrora, e já se podia sentir uma sensível diminuição da sua seleta freguesia, principalmente no almoço.
Assim, numa destas noites bem movimentadas, o maître me diz:
- Sr. Jacques, por favor, o cliente da mesa 43 somente fala Francês, e gostaria de ter alguém que pudesse lhe atender neste idioma, o senhor se encarregaria disto?
Sempre gostei de atender aos clientes, mesmo não sendo minha função específica, pois todas as vezes que o faço, coloco-me no lugar deles, tentando descobrir, meio que "mediunicamente", por qual caminho gastronômico deverei caminhar para poder sugerir-lhes os pratos do cardápio que possam ser do seu agrado, e como deveria harmonizá-los para que o vinho pudesse dar aquele "plus" ao colorido final da refeição.
Logicamente, a cada vez que as pessoas me agradeciam na saída do restaurante, ou mesmo quando com um discreto aceno de mão, me chamavam para comentar  a forma como estavam apreciando minhas sugestões, tudo isto me deixava pleno de alegria e com o sentimento do dever cumprido:
Fiz para eles exatamente o que eu gostaria que fizessem para mim, nada mais, nada menos!
Então, aproximei-me da mesa, cumprimentei a senhora e o senhor, disse-lhes meu nome, e a razão de estar ali, ou seja, para ajudá-los a ter um excelente e inesquecível jantar naquela noite.
O senhor, um tanto quanto rebelde, me interpelou bruscamente sobre a sugestão de um vinho, como algo do tipo, "vamos logo ao que interessa".
Perguntei-lhe se eu deveria trazer a carta de vinhos ou se ele gostaria que eu lhe desse alguma sugestão.
Sempre de forma meio rude, (o que depois descobri tratar-se apenas de uma forma de defesa), este senhor disse-me que queria provar, antes, uma taça do vinho que eu prentedia sugerir-lhe.
Com prazer, respondi, e me afastei, indo buscar as taças e o vinho para fazê-los provar.
Ao provarem daquele belo Cabernet Sauvignon, brasileiro, o casal pediu-me que abrisse uma garrafa e mostraram-se muito satisfeitos com esta escolha.
Providenciei com o sommelier para que servisse o vinho, e passei para a etapa do menu.
Seguiram-se as mesmas perguntas, só que agora, mais amável e confiante, o senhor me disse:
- Já que você foi tão hábil com a escolha do vinho, imagino que também o será com a escolha da comida...o que nos recomendaria?
Por alguns segundos meu computador interno somou, dividiu, multiplicou e a sugestão veio como se fosse o meu desejo para jantar naquele momento, assim, sugeri para a senhora umas Costeletas de Cordeiro (Uruguaias), com um suave molho de hortelã, a parte, acompanhadas de Batatas Assadas cortadas em estilo Canoa (bem grandes), sem antes, claro, deixar de exaltar a qualidade das mesmas, e seu tamanho, Nirea 18/20.
Ao seu marido, que já estava meio impaciente, resolvi sugerir-lhe a Galinha d'Angola, assada, servida fatiada como se fosse um maigret, com o molho preparado do seu próprio assado, e servida com um Risoto de Shiitake.
Diante da expressão curiosa referente à Galinha d'Angola (a qual eu já esperava que houvesse, claro), expliquei-lhe tratar-se de uma galinha selvagem, também conhecida no nosso país como "capote", que vôa e dorme nas árvores, que não se reproduz em cativeiro, o que nos obriga a ter que seguí-la, mato adentro, para ver onde irá colocar seus ovos, retirá-los dali , e os "deitarmos" (expressão nordestina) no ninho da galinha comum, para que esta trate de chocá-los.
Acrescentei que também é muito comum, quando a mesma sobrevive aos predadores, vê-la voltar de algum lugar, para o seu ponto de origem, seguida da prole barulhenta.
Enfim, chegou a hora da verdade, e a cozinha, minha principal coadjuvante, ajudou-me na montagem e na apresentação de ambos os pratos que estavam realmente lindos.
Ajudei a servir, e deixei-os tranquilos para que pudessem desfrutar do jantar, recomendando ao garçon para que não deixasse faltar nem vinho nem água nas taças.
Após a sobremesa e o café, este senhor me chama e diz:
- Mon ami, (gostei por demais de ser tratado assim), o jantar estava magnifique!!
Gostaria que você soubesse de uma coisa....sou presidente de uma Multinacional, portanto, estou obrigado a viajar por todo o mundo, constantemente.
Já comi em todos os grandes polos grastronômicos, ou seja, New York, Paris, Londres, Roma, Hong-Kong, etc, porém, em nenhum deles, conheci alguém como o senhor que conseguiu de forma tão elegante, a difícil façanha de: "Transformar palavras em paladar".
Meu coração disparou, meus olhos se encheram de lágrimas, pois, há muitos anos que vinha dizendo que o famoso ditado está errado, ou seja, primeiro comemos com os ouvidos e depois com os olhos, o que simplesmente obriga que um maître seja um orientador gastronômico e não um mero tirador de pedidos.
Madame et Monsieur, não sei os seus nomes e nem sua origem, porém, agradeço todos os dias por tê-los conhecido, e recebido o lindo elogio que me fizeram.
Considero-o um grande prêmio para mim, como profissional da área de Alimentos e Bebidas, e também um grande motivo de orgulho, acho até que mereceria UMA BELA MOLDURA PARA PODER FICAR PENDURADO NA PAREDE DA MINHA CASA.
Jacques .'.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Albamar - A Fenix da Praça XV

Quem nunca ouviu falar do tradicionalíssimo Restaurante Albamar, que foi no passado um dos locais mais frequentados pelas personalidades que visitavam a Cidade Maravilhosa?
Sim, isto mesmo, aquele restaurante com um design lindíssimo, feito com estruturas metálicas, de formato octogonal e que fica na Praça XV.
Pois bem, este patrimônio histórico da cidade renasceu das cinzas como uma Fenix, remodelado, com novos proprietários e um bom chef, fazendo com que fossem renovadas as esperanças dos gourmets cariocas no que se refere ao retorno da culinária especial deste "velhinho" que virou "novinho em folha".
Foi com prazer que no dia 18/11, lá no MAM, vi o Albamar receber o título de melhor restaurante de frutos-do-mar do Rio de Janeiro, conquistado no 8° Prêmio Rio Show Gastronomia, patrocinado pelo jornal O Globo.
Assim, diante de tão boa notícia, resolvi convidar um amigo meu para almoçar comigo no restaurante, já que o retorno ao Albamar, no meu caso, significava viajar ao passado e relembrar momentos inesquecíveis da minha vida.
Foi ali que em outros tempos, pude deliciar-me com Camarões VG à Paulista (10 unidades num quilo), que eram servidos com estilo e elegância, guardanapos de linho e uma lavanda quentinha.
Antes da nossa visita, mantive contato com o Paulo Correa, um dos atuais sócios, que conheci no dia da premiação, e lhe pedi que me reservasse uma linda e confortável mesa.
O interessante é que no Albamar todas as mesas são lindas e confortáveis, pois a vista da baía de Guanabara, com a ponte Rio-Niterói ao fundo, os aviões aterrizando no Santos Dumont, as barcas indo e vindo de Niterói, enfim, o reflexo do sol na água, colorem todo este cenário magnífico com tintas dignas de qualquer grande pintor.
Ali chegando, entramos num pequeno elevador, que até hoje se dá ao luxo de ter uma ascensorista para abrir-lhe e fechar-lhe as portas, e que nos conduzíu até o segundo andar, onde fica o restaurante.
Nossa mesa estava bem em frente, enconstada na janela, e explendorosamente localizada dentro do novo layout do restaurante.
Meu coração, ao sentar-me, disparou acelerado pois, imediatamente, me vieram à lembrança momentos de muita alegria e prazer ao lado de pessoas com as quais não podemos estar mais lado a lado.
Mas....vamos ao que interessa, ou seja, nossa experiência no novo-velho Albamar!
Como sempre costumo fazer, consultei o maître sobre a possibilidade de escolhermos diferentes pratos para virem diretamente da cozinha à mesa dividos por dois, a fim de que pudéssemos provar de tudo um pouco, porém, com requinte.
Aceita a nossa proposta, pedimos de cara uma porção de bolinhos de bacalhau, enquanto líamos atentamente o menu.
Posteriormente, sugeri ao Paulo que atentasse para estes bolinhos, pois se fossem menos salgados e oleosos, e com um formato mais alongado, o que propicia uma melhor fritura,  estariam muito bons, já que a textura era boa e a quantidade de bacalhau estava no ponto certo.
Neste momento, ao findarmos a escolha da sequência dos pratos, decidimos eleger o vinho Muscadet Sèvre et Maine, que demorou um pouco para chegar na sua temperatura ideal, mas, depois, foi um bom coadjuvante no nosso repasto.
O primeiro prato degustado foi um "bel" Risoto de Frutos do Mar, que estava divinamente bom em todos os sentidos, ou seja, al dente, arroz de qualidade, com uma quantidade exata de mariscos e crustáceos, um molho agradável e com um refogado que não ofuscava de forma alguma o sabor deste prato, que é  oriundo da Lombardia, conforme podemos entender melhor atraves do site abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Risotto
Em seguida, pedimos um Bobó de Camarão que era algo de sensacional!
Imaginem que sou um anti-coentro de marca maior, pois a maioria das cozinhas exageram na quantidade deste na confecção dos pratos, e acabam comprometendo o gosto da comida, porém, neste prato, senti o leve toque da folhinha, e que em nada afetou o gosto da Bahia que tem que vir agregado ao Bobó, não é mesmo?
Depois foi a vez do Filet de  Cherne, com Molho de Camarão e Champignons, acompanhado de um Purê de Batata e Juliana de Trufas Negras, que poderia ter sido melhor se não o tivessem "selado" um pouco além do ponto, e se a apresentação fosse mais alegre.
Tenho por mim, ao longo de tantos anos trabalhando no ramo de gastronomia, que todos os pratos que têm acompanhamento de purê deveriam ser decorados de uma maneira tal que dessem um "elevé" na sua apresentação, mesmo que para tanto fosse necessário usar o tradicional bico de confeiteiro para poder formar um desenho no prato.
Finalmente, seguindo a sugestão do Chef Adilson, que nos concedeu uma atenção ímpar nesta viagem de sabores variados, desfrutamos de uma Pêra Confit em Vinho Sauterne, fatiada em leque, servida com uma Geléia de Sauterne num copinho, Sorvete de Creme e Amêndoas e que só era comparável à beleza do visual que nos rodeava.
Assim, com pesar, deixamos o passado requintado do interior do Restaurante Albamar e voltamos ao ano de 2010, porém, com a certeza de que existe lá na Praça XV uma máquina do tempo disponível, da qual iremos nos utilizar brevemente, e com frequência.
Ah...um detalhe...antes de embarcarem nesta aventura gastronômica, deixem seus carros estacionados bem na frente do restaurante, até porque é grátis, ok?
Jacques .'.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

No tabuleiro da Tijuca tem...

Tem tudo que um bairro deste porte necessita ter, principalmente, no que diz respeito à Gastronomia.
Logicamente que não existe, todavia, nenhum restaurante que tenha investido no requinte e no luxo de alguns companheiros da zona sul, mas, guardadas as devidas proporções, podemos comer muitas vezes melhor ali do que lá.
Hoje a noite decidi voltar à Churrascaria Espeto e Brasa, na Rua São Francisco Xavier 107, onde a muito tempo não ia.
Agradável supresa, logo na entrada, foi ver meu velho amigo, o "Mineiro", que era passador de carnes, como gerente operacional da casa.
Como sempre, deixei na mão dele a preparação das carnes que mais aprecio, enquanto buscava alguma coisa de interessante no buffet de saladas.
Era tanta coisa sendo oferecida, que resolvi escolher apenas o básico, ou seja, umas rodelas de tomate, alguns ovinhos de codorna, umas bolinhas de muzzarela de búfala, um talo de palmito, e molhos de mostarda e queijo gorgonzola.
Para dar tempo às carnes, diminui o ritmo da entrada, e quando me dei por satisfeito solicitei que viessem as guarnições que escolhi, e que continham, como de praxe, a excelente banana frita (não era empanada), os bolinhos de aipim fritos na hora, a batata portuguesa, bem sequinha, e uma farofa de ovo.
Começamos o festival dos espetos corridos, com corações de galinha que mais pareciam de aves maiores, dado a sua forma robusta e ao tamanho generoso.
Suculentos, do ponto para mal (como devem ser apreciados) e sob os cuidados atentos do Mineiro, estavam dignos de se tirar umas fotos para podermos "matar a cobra e mostrar o pau", publicando-as aqui no blog.
Em seguida, o meu grande favorito, a costelinha de porco, das pequenas, assadas na brasa apenas com pouco sal grosso, e que chegaram à mesa bem quentinhas, macias e super saborosas.
Seguiram-se a picanha tradicional, a fraldinha, a alcatra, a picanha nobre (melhor dizendo - nobríssima, de tão saborosa), a costela bovina, as coxas de frango, linguiçinhas e ainda uma chuleta só no sal grosso.
Pena que uma mesa ao lado, nas famosas festinhas de fim de ano, reunia um grupo de gente que gritava de tal forma, que questionei-me se isto aconteceria dentro de alguma churrascaria rodízio, tradicional, da zona sul.
Na mesma hora entendi que em todos os lugares sempre haverá aqueles clientes que entendem por festa de fim de ano, a ida num restaurante para beberem alem da conta e incomodarem os outros, pois isto é uma questão de educação, de consciência, e infelizmente, nosso povo ainda carece do aprendizado destas formas de respeito ao próximo.
Mesmo assim, como sempre, o Mineiro nos surpreendeu com as carnes, e fez com que jantássemos muito bem (talvez até um pouco mais da conta), já imaginando um retorno em breve para mais uma rodada de espetos.
Com certeza absoluta, afirmo que na Tijuca, neste local, com o aval do Mineiro, podemos comer melhor do que em muitas outras casas similares na zona sul, caríssimas, e que não oferecem o mesmo que este lugar meio desconhecido, tem como hábito de fazer para o deleite dos seus clientes.
No tabuleiro da Tijuca tem.....Churrascaria, Pizzaria, Frutos do Mar, Comida Japa (Mitsuba - o melhor do Rio, para mim), Comida Italiana, Comida Alemã, Comida Espanhola, Comida Tradicional (vide o Salete), e por aí vai.
O Rio também é Tijuca, acreditem, e façam suas apostas!
Bom apetite...
Jacques .'.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Papai Noel e o Ballet Quebra Nozes

Nesta noite do dia 08 de dezembro, fomos ao Teatro Municipal assistir uma vez mais ao ballet O Quebra Nozes, baseado numa versão feita por Alexandre Dumas, com a linda  música de Tchaikovsky, e que sempre é apresentado no mês de dezembro, face as festividades natalinas.
Comentários prós e contras sempre existirão, porém, embuídos do espírito do Natal, vamos tentar analisar o espetáculo de uma maneira menos crítica e com olhos mais voltados para o lado positivo do evento.
A iniciativa de apresentar este ballet é sempre louvável, e ainda mais quando se tem a presença de crianças participando do coral e no ballet, já que a peça assim o exige.
Vê-las interagindo com profissionais nos faz acreditar que elas retirarão algum conteúdo positivo para o seu futuro cultural, e isto nos traz a esperança de que o Brasil vindouro não irá padecer nas mãos de funkeiros, de duplas sertanejas, e, principalmente, nos horrendos rocks barulhentos.
O Quebra Nozes, conta a história de uma menina, a Clara, que na noite de Natal ganha de presente do padrinho uma quebra-nozes em forma de boneco, e quando adormece, através de seu sonho todos os bonecos tomam vida e ela passa a vivenciar inúmeras situações fantasiosas, como uma briga entre ratos e soldados, liderados pelo então "capitão" Quebra Nozes, diferentes danças que são apresentadas em sua homenagem aludindo à outros países, assim como uma visita num local que seria como um paraíso de doces e guloseimas, ou seja, tudo aquilo que somente poderia estar contido na cabeça de uma criança.
Ao final da trama, Clara deveria acordar e perceber que teve um sonho, porém, isto somente será lembrado por aqueles que já viram várias vezes o ballet, já que na noite de hoje, ela apenas sai de cena numa espécie de "carruagem", dando-se por encerrado o espetáculo.
A coreografia teve lindos momentos, assim como fatos lamentáveis.
A menina Clara levou um grande e ruidoso tombo que assustou a todos que perceberam o ocorrido (muita gente achou que aquilo era parte da dança, com certeza).
O Francisco Timbó, excelente profissional, em determinado momento em que sustentava a bailarina no alto, tentou mantê-la com apenas uma das mãos, porém, teve que recuar subitamente já que perdeu o equilíbrio e não suportou o peso da mesma, o que poderia ter causado um  tremendo constrangimento, se ela caísse.
Mas tudo isto são coisas passíveis de ocorrer com qualquer um, e ainda mais no primeiro dia.
Imperdoável mesmo foi ouvir a discussão entre os funcionários da coxia em voz alta, na hora da troca dos cenários para a transformação do ambiente na Floresta Gelada, o que nunca poderia ocorrer numa gestão nova e que se propõe a dar modernidade e profissionalismo ao tão cansado de guerra, Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Outro fato lamentável, foi o carro simbolizando a Bombonière, por onde saíam várias meninas, crianças-bombons, suspirinhos, confeitos, todas elas lindinhas, que ficou entalado na entrada e na saída do palco, e que também permitia que um sujeito, a paisana, fosse visto por detrás do mesmo, já que  era o responsável por fazê-lo se movimentar, numa total demonstração de falta de bom planejamento.
Detalhes como estes fazem a diferença entre o sério e o jocoso.
Digno dos aplausos e das ovações que receberam, foram os bailarinos da dança russa, do Pas-de-Deux entre o Príncipe Quebra Nozes e a Fada Açucarada, assim como o casal que dançou representando a Espanha.
Os figurinos estavam bonitos, mas pareciam cansados, e acredito que estes poderiam ter tido uma apresentação mais bem elaborada (detalhes fazem a diferença).
Agora, na minha modesta opinião, o que realmente mereceu uma nota 10, com louvor, foi a regência do Maestro Javier Logioia Orbe, natural da Argentina, e com um curriculum de fazer inveja a qualquer maestro famoso, o qual confesso que desconhecia.
Ele promoveu uma linda dinâmica na orquestra, fazendo com que houvesse um contraste maravilhoso entre os fortíssimos e os pianíssimos, e conseguiu que toda a orquestra respondesse de forma brilhante aos seus apelos.
O naipe dos metais estava super bem preparado, assim como os de madeiras (sopro) e o das cordas, juntamente com o da percussão.
A doçura com a qual os metais impactavam os fortíssimos, comungava com a suavidade das cordas e com o conjunto sonoro das madeiras.
Esperávamos  muito mais desta apresentação que objetivava encerrar o ano da reinauguração do Teatro Muncipal com chave de ouro, porém, para agradar ao bom velhinho, vamos manter na lembrança apenas as lindas danças que foram apresentadas, e os tradicionais trechos melódicos que marcam este ballet.
Que em 2011, oxalá, os dirigentes do Teatro consigam verbas suficientes para nos brindar com espetáculos que sejam dignos da reforma que o mesmo sofreu, assim como também que sejam convidados artistas consagrados no mundo inteiro para que somar com os nossos grandes cantores e bailarinos.
Papai Noel.....é só este o presente que lhe peço para 2011....capricha, ok?

Roberta Sudbrack - Entre o Céu e a Terra

Sim, entre o Céu e a Terra, em algum lugar do Universo, existe um pequeno restaurante que conseguiu obter a fórmula mágica do sucesso, mesmo fugindo das regras básicas que definem o objeto do seu propósito.
Vamos ser mais claros e objetivos!
Na semana passada, fizemos uma visita ao famoso restaurante da Chef Roberta Sudbrack, merecidamente tríplice premiada no 8° Prêmio Rio Show de Gastronomia, categorias Melhor Chef, Melhor Cozinha Contemporânea e Melhor Restaurante do Rio de Janeiro.
Tive a honra de poder votar nesta sequência, pois estava participando deste evento na condição de Jurado Especial da premiação.
Obviamente, quando falamos em ir a um restaurante, entendemos que neste lugar faremos uma refeição que geralmente é composta por entrada, prato principal, sobremesa e o famoso cafèzinho.
Ao entrar no restaurante da RS, nossa expectativa era de poder sair dali com a felicidade estampada no rosto, e com um sorriso de orelha à orelha, porém, diferentemente do que muitos afirmariam, não foi o que aconteceu.
Vejamos o por que:
O cardápio se resumia apenas a três opções - com 3 pratos, à R$ 135,00, com 5 pratos à R$ 180,00 e outra opção com 8 pratos à R$ 220,00 por pessoa (não esquecer do famoso + 10% no final).
Apresentava também uma versão idêntica, só que acrescida de trufas, que nem me atrevo a divulgar os valores do mesmo, pois, já que estamos no Brasil, país com milhares de pessoas pobres e esfomeadas, certamente eu seria odiado pelo resto da vida por apresentar o afrontoso preço deste menu "trufado", e que incrivelmente muita gente pede sem o menor sentimento de culpa.
Mas, deixemos de filosofias e voltemos ao tema acima.
Assim, por estarmos diante do doloroso dilema - ou ficamos ou vamos embora - decidimos por ficar e pedir o menu de 3 pratos, pensando em saborear algo que pudesse nos recompensar pelo ato tão dispendioso que estávamos cometendo.
Pedimos uma garrafa do vinho nacional Barbera Angheben, safra 2005, à R$ 95,00, para dar um pouco mais de brilho ao jantar, e com o qual ficamos bem satisfeitos.
A taça era uma Bordeaux, Spiegelau, e a temperatura do vinho estava excelente, aliás, toda a mise en place era de boa qualidade e a decoração da mesa, discreta, comme il faut.
Haviam 3 amuses, 3 pratos considerados como principais e uma só opção de sobremesa.
Para começar, pedi uma lichia com foie gras e meu amigo uma flor de abobrinha empanada com farelo de broa de cacau.
Creio que os astros foram mais generosos com ele do que comigo (talvez por eu estar passando pelo meu inferno astral) pois somente consegui detectar a gordinha da lichia apoiada sobre uma colher de louça branca, já que, do foie gras mesmo, lembro-me apenas de ter sentido um leve aroma.
Antes de seguirmos com o prato escolhido, pedi à Chef que nos servisse uma porção dos ravioles que estavam mencionados no menu, dividida para dois, a fim de poder saciar a minha curiosidade sobre os mesmos.
Infelizmente, por mais boa vontade que ela tivesse tido para conosco, os mesmos vieram frios e ressecados.
Passamos então ao prato principal, onde me foi servido uma sobrecoxa de pato acompanhada de compota de ameixa, e para meu acompanhante, um pequeno naco de robalo com vagem.
Ambos muito saborosos, tendo o peixe arrancado suspiros do meu colega.
A batata sauté (3 unidades) que foi me foi servida dentro de um copo que continha um papel suga-gordura, era de tamanho mal gosto, gordurosa, e sem padrão de corte, que custei a me recuperar deste impacto visual.
Já a sobremesa....bem....acho melhor dispensar este comentário, pois não imagino como poderia descrever algo que me pareceu extremamente fora deste enredo gastronômico, sem dizer que rapadura boa mesmo, eu trouxe uma lá do interior do Ceará.
Comentando sobre o serviço, estou certo de que este poderia ter sido mais eficiente, caso a chefia do salão entendesse que o restaurante, por ter vários ambientes, necessita de uma intensa movimentação dos funcionários, visando um acompanhamento constante dos clientes.
Bem, chegou a hora da verdade, e pedimos ao garçon que nos trouxesse a conta - gelei.
Minha nave somente cruzou, humildemente, o menu de 3 planetas, e a conta não condizia com aquilo que havíamos comido, pois, sem medo de errar, estou convicto de que valores são todos relativos, porém, tudo na vida deve tem que estar ligado ao resultado final daquilo a que se propõe.
Concluindo, ou traduzindo, como quiserem: - um restaurante, dentro do contexto do nome, será sempre um lugar onde se vai para poder comer e ficar satisfeito, e nunca tornar-se um local de onde você sai com o seguinte pensamento:
Como seria bom se tivesse havido a chance da segunda mordida...mal começei, e já acabou.
Ninguém pode pretender comer no restaurante da Chef Roberta como se come num destes quilos da vida, mas, também, não pode sair frustrado, e com fome, como foi o meu caso, até porque é muito caro.
Custo x benefício é sempre bem vindo à bordo, e imagino que um coxa de pato agregada à sobrecoxa do dito cujo, não abalaria a planilha de custo do mesmo.
Se tivéssemos pedido o menu de 8 tempos, mesmo assim não teria sido muito diferente, apenas que a minha nave iria ficar sem combustível por um bom tempo, já que mais 2 mini amuses, mais um sorbet e uma mini tábua de queijos, não teriam feito muito diferença no final do ágape, porém, na conta....valham-me todas as forças do Universo!
Com o coração voltado para o espaço sideral, e usando desta palavra escrita  como um profissional da área de Alimentos e Bebidas, é que me atrevo a sugerir à colega e estimada Chef Roberta, que avalie a sugestão que lhe dou sobre a falta que senti daquela "segunda mordida", assim como para os preços que estão sendo praticados, pois sei que uma mudança neste sentido permitirá que muitas outras pessoas de bom gosto, possam também embarcar nas suas viagens intergalácticas de nuances gastronômicas.

domingo, 5 de dezembro de 2010

O Barbeiro de Sevilha

Quem esteve no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no dia 28 de novembro de 2010, pode assistir à última apresentação desta montagem da ópera de Rossini, a 89ª, elaborada pela Companhia Nacional de Ópera, que fez uma extensa turnê por todo o Brasil, visitando diversas capitais, com  lotação esgotada em todas as récitas.
O surpreendente foi que, ao invés de cenários, existia no fundo do palco uma tela gigante onde eram projetados desenhos animados, com os quais os cantores interagiam, e que acrescentavam côres e muita comicidade a esta ópera de câmara bufa.
A regência do maestro John Neschling foi impecável, sóbria, discreta, porém de forte interação com seus músicos.
Por estar sentado logo na primeira fila da platéia, pude flagrar o suave beijo que ele enviou para o naipe de violinos, após uma passagem musical onde estes transmitiram de forma fantástica, todo o amor do Conde D'Almaviva por Rosina.
Lindo trabalho deste maestro que conseguiu promover uma dinâmica sonora de primeirissima qualidade.
Os cantores, mesmo com seus altos e baixos, no que se refere à capacitação técnica, merecem todos os nossos aplausos, pois, somente quem tem um grande amor pela arte, é que conseguiria cantar esta mesma peça por 89 vezes.
Um elogio especial para Savio Esperandio que fez um maravilhoso Bartolo, assim como para a idéia de intercarlar os papéis, tipo, o barítono que fazia o Fígaro numa récita, na seguinte interpretava o Fiorelo.
Só podemos ensejar que o ano de 2011 seja mais gentil com a Companhia Brasileira de Ópera, permitindo que esta possa vir a apresentar mais de uma obra, já que o povo brasileiro está sedento de ouvir coisas boas, principalmente, no segmento do "bel canto".

PS: Para aqueles que não têm ainda o conhecimento de determinados temas aqui mencionados, achamos interessante inserir os links para a definição de Orquestra de Câmara  e de Ópera Buffa contidas no Wikipédia.