domingo, 27 de fevereiro de 2011

La Cigale...Quem sabe, sabe...Conhece bem!

Aproveitando a época do reinado de Momo, decidimos sair no bloco dos esfomeados a procura de um lugar para o nosso famoso jantar de todos os sábados.
De repente, no meio da empolgação, e do trânsisto tumultuado, lembrei-me do La Cigale, aquele pequeno e aconchegante bistrô localizado no Leblon.
Então, joguei fora meu abadá e me dirigi para lá, onde, no comando da bateria da cozinha está a minha estimada amiga e excelente profissional, a Chef Ana Ribeiro.
Logo quando chegamos, sorridente como sempre, ela saiu do alto do seu lugar de destaque para vir nos saudar e ajudar a escolhermos um bom local para sentarmos.
Dado ao seu curriculum invejável, de incríveis evoluções, entre elas a de ter sido a única Chef mulher do Le Saint Honoré, no extinto Le Méridien, deixamos nas suas mãos definir qual seria o nosso menu para aquela noite.
Como já era tarde, e ainda tínhamos uma festa para ir, abdicamos das tentações de Baco, e ficamos apenas nos meros refrigerantes.
Assim, começou o desfile dos pratos que ela preparou para que desfrutássemos das alegorias do enredo gastronômico daquela noite.
O primeiro impacto visual veio com o Carro Abre-Alas, que foi uma Salada composta por um Mix de Folhas Verdes, Queijo de Coalho quente, Crocante de Presunto de Parma e um Vinagrette de Geléia de Jabuticaba e Balsâmico, e que arrancou aplausos e expressões de felicidade daqueles que a estavam desfrutando.
O tempo entre este prato e o que se seguiu, transcorreu corretamente dentro do previsto, para que não se perdesse nenhum ponto  na cronometagem da nossa degustação.
O desfile continuou com a chegada da "Velha Guarda", um Linguine al Frutti di Mare, onde seus adereços, ou sejam, as lulas, polvos e mexilhões, eram frescos e saborosos, como da mesma forma o camarão VG que adornava, soberano, este carro alegórico que homenageava a Itália.
Fazendo o seu tradicional recuo, a bateria deu espaço para que a escola continuasse com a sua evolução e pudesse seguir apresentando as atrações que ainda estavam por passar pela avenida da nossa mesa.
Assim, com muita alegria, confetes e serpentinas, recebemos o Maigret de Pato Rôti, grelhado no ponto certo, cortado da maneira correta, acompanhado de um Batata Gratin Dauphinoise e de Vagens Glaceadas e servido com um molho preparado com Cachaça e Melado de Cana.
Não deu outra, soltei a voz para cantar:
Ó abre-alas, que eu quero passar....
Ninguem poderia me segurar diante de algo tão saboroso, criativo e de uma empolgação contagiante.
Meu companheiro de camarote optou por um Bacalhau ao Creme de Batata Parmentier, com molho Grenobloise, que estava no ponto correto, porém, talvez fosse melhor que a quantidade do mesmo não ofuscasse a presença do peixe no prato, pois acabou por esconder e "afogar"o destaque principal.
Aproximando-se do final do desfile, eis que todo o esplendor deste enredo da Gula se estampa na sobremesa, a qual registramos com o celular para que fique nos anais da história.
Trata-se de um Mil Folhas com recheio de Doce de Leite Cremoso, calda de Rapadura e um impressionante Chantilly de Coalhada que era algo digno dos Deuses.


Desta forma, satisfeitos com o contagiante enredo dos quitutes que nos foram oferecidos, saímos dali com a certeza de que: - Quem sabe, sabe...e faz bem feito!
Não podemos esperar outra coisa dos colunistas que outorgam prêmios de gastronomia, que no final deste ano, o nome da Chef Ana Ribeiro esteja presente obrigatoriamente em todas as edições destes tipos de eventos, pois, nada seria mais justo e merecedor para alguem como ela que ganha nota 10 em todos os quesitos.
Bom carnaval!
Jacques.'.


domingo, 20 de fevereiro de 2011

Guy... Um discreto Bistrô na Fonte da Saudade

Mais uma noite de sábado, e aquela dúvida cruel sobre qual restaurante escolher para jantar me invade a mente.
Aproveitando a dica da Luciana Fróes, resolvemos visitar o Guy Bistrô lá na Fonte da Saudade, pois desde a sua abertura há 2 anos atrás mantemos muita vontade de conhecê-lo, como da mesma forma, encontrar-nos com sua renomada Chef Elba Ximenez.
Quem passa por este pacato local nem percebe que ali, numa mera esquina, está o Guy Bistrô.
Além da culinária honesta, ainda conta com uma excelente delicatessen  no andar térreo, que incluiu a venda de variados pães artesanais que nada deixa a desejar aos points badalados da cidade, como o Celeiro e o Garcia & Rodrigues.
Assim, juntando a fome com a vontade de conhecer (risos), já ao som do CD da Edith Piaf tocando no carro, para entrarmos no clima, chegamos ao Guy, o qual somente conseguimos idenficar graças ao enorme ombrelone doValet Parking do seu vizinho.
Como já estava um pouco tarde, deixamos a visita mais apurada da delicatessen para uma outra vez, e subimos ao segundo andar onde fica o restaurante.
Fomos muito bem recebidos por um garçon, já que na inexistência de um maître, é ele que orienta os clientes sobre o menu, isto, caso a própria Chef não venha anotar o pedido.
No nosso caso, como objetivávamos conhecer a famosa Chef Elba, resolvemos esperar pela presença da mesma, até porque queríamos a sua aprovação para a combinação que estávamos fazendo, a fim de compormos um pequeno menu degustação.
Eis que de repente surge a Chef, com seu sorriso e simpatia ímpares, naquele ritmo apressado de quem tem muito trabalho para fazer, aprova e anota nosso  pedido, pede licença para voltar à cozinha, mas prometendo voltar para conversarmos um pouco mais, tudo isto no mais puro estilo mineiro (risos).
Ficamos então desfrutando do couvert que era composto por azeitonas marinadas, um queijo do tipo Boursin feito com o leite de cabra, caldinho de batata doce com raspas de Grana Padano, geléia de pimentão vermelho, e uma cesta de pães variados todos feitos na casa.
Tudo impecável, de excelente qualidade, com diferentes sabores, e que serviu realmente para abrir nosso apetite.
Faremos uma resalva sobre a falta da faquinha de apoio, para  que pudéssemos nos servir com mais comodidade do couvert, pois, para tanto, tivemos que usar a faca da mise-en-place, maior e mais pesada, o que efetivamente não foi confortável.
Antes do início do jantar, pedimos um vinho branco Vernaccia di San Gimignano, da Toscana, e que por ser um vinho seco, com aromas florais e ligeiramente frutado, de sabor penetrante, veio bem a calhar com os nossos pedidos, ainda mais depois que gelou até sua temperatura ideal.
Nosso primeiro prato foi um Chiffonade de Salmão Marinado, com manga verde, gengibre, capim-limão e um molho cítrico que era servido separadamente num mini-recipiente.
O salmão, ao invés de ser marinado era defumado, e a Chef nos explicou que a maioria dos clientes apreciava mais esta forma, porém, na minha opinião, eu teria gostado muito mais se tivesse sido realmente utilizado o salmão marinado, pois estaria mais coerente com os seus coadjuvantes na composição do prato.
Apenas como ilustração, Chiffonade é na realidade, uma forma de corte, face a  isso é que o salmão veio servido cortado em pequenas tiras alongadas, mas, estes novos tipos de louça utilizados para servirem a comida, com seus formatos variando de um retângulo a um quadrado, de um cone a uma elipse, todos brancos, enfim, além de não serem elegantes, na minha humilde opinião só atrapalham as pessoas na hora de comer.
Voltando ao salmão, gostaria de acrescentar que se este estivesse um pouco mais gelado, eu o teria desfrutado com maior prazer, e se fosse marinado, aí sim, o prato ficaria muito mais saboroso.
Logo em seguida, sem aquele tempinho para jogar conversa fora, chegou o segundo prato que era um Risotto denominado Marcelo Faustini (homenagem ao ex-paquito da Xuxa?) composto por champignons selvagens, queijo brie, e um espetinho contendo figo seco e vieiras, e que estava muito saboroso, bem quente, porém, um pouco mais cozido do que deveria ser, e servido mais úmido do que eu esperava, até porque ponto de rizotto é ponto de rizotto, independentemente para quem ele será servido.
Mesmo assim, a qualidade dos produtos e sua quantidade generosa, além do excelente sabor, fez com que estes detalhes perdessem momentâneamente a sua importância, fazendo com que desfrutássemos dele,  mesmo fora dos padrões do tradicional prato da Lombardia, no norte da Itália.
A louça, mais uma vez, na minha forma de ver, atrapalhou o conforto que se deve ter para comer, e estou seguro de que um simples prato fundo teria alcançado maior êxito.
Novamente nos serviram o terceiro prato sem que houvesse um pequeno intervalo, sendo que agora era a vez de um Arroz Vermelho Imperial, com pedaços de camarão, com um molho feito à base de Mirtilo, que em inglês seria Blueberry, e ainda camarões VG empanados.
Uma observação: A framboesa, por sua semelhança com o mirtilo, nos fez entrar numa guerra terrível contra a memória, na qual fomos derrotados naquele momento, porém, hoje, com a ajuda do Google, conseguimos reviver neste campo de batalha, e "lembrar" que seu nome em Inglês é Raspberry.
Deveríamos continuar para o quarto prato se não fosse meu companheiro de mesa informar que estava impossibilitado de prosseguir, porém, pelo menos, já sei o que pedir da próxima vez que eu retornar ao Guy, e que com certeza será em breve.
A última parte do nosso jantar foi uma sobremesa muito gostosa, onde um  Harumaki (rolinho) é servido com ovos moles, calda de caramelo, sorvete de canela e um crocante que nos pareceu ser feito à base de amêndoas raladas, sobre o qual fiquei imaginando, nas minhas viagens de gourmet, que talvez fosse uma grande idéia se este fosse trocado por uma deliciosa paçoca, que seria algo mais diferente (hummmm!)
Tomamos dois cafés e pedimos a conta, satisfeitos por termos ido a um lugar singelo, mas onde se prima pela elaboração de uma boa comida, com bom custo x benefíco, que tem alguns pontos ainda para serem ajustados, principalmente à nível de serviço e suas derivações, mas, que tem à frente uma Elba Ximenez encantadora e super feliz por ver seu trabalho reconhecido e apreciado.
Com certeza vale a pena ir visitar o local, papear com a Chef, curtir seu sotaque mineirinho de 3 Pontas, e se deliciar com tudo de bom que o Guy Bistrô pode oferecer.
Na próxima edição dos prêmios de gastronomia aqui do Rio, seguramente,  um nome que não poderá faltar, de jeito algum, é o da Chef Elba Ximenez!
Parabéns!
Jacques .'.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

AMIR....O Árabe de Copacabana!

Sábado à noite bateu aquela famosa dúvida sobre onde ir jantar, e que  estivesse fora do cansativo e custoso circo da nouvelle cuisine, ou dos ristorantes italianos que tanto se espalharam pela cidade inteira.
Foi assim que esfreguei minha lâmpada mágica, e Aladim, o gênio, me soprou no ouvido: - Vai no Amir!
A princípio fiquei meio relutante com a sugestão, porém, acabei seduzido pela idéia de conhecer um pouco mais da culinária árabe, da qual não sou especialista, já que meu contato com ela, confesso, foi sempre muito limitado.
Lembro-me vagamente de um jantar que me foi oferecido por um amigo da área de hotelaria, que vivia em Beirute, a muitos anos atrás, num luxuoso restaurante da cidade, onde todos os garçons estavam trajados com roupas típicas, as mesas eram cobertas com lindas toalhas, e ainda tinha toda a edumentária arábica que servia para encantar os olhos dos clientes antes do início da refeição.
Logicamente que a proposta do Amir não é ser luxuoso, como seu colega do Líbano, porém, de poder atender bem aos clientes que frequentam esta tradicional casa na praça do Lido, que, aliás, estava bem movimentada nesta noite.
Decisão tomada, preparei meu camelo prateado e o fui guiando até Copacabana, porém, para estacionar foi bem complicado, em função do aglomerado de vendedores que formam a feirinha na praça do Lido.
Ao chegarmos fomos recepcionados pela gerente e o maître, ambos muito gentis, que nos conduziram ao segundo andar onde está a varanda, sendo nos oferecido uma mesa de 6 lugares, bem agradável.
Realmente, ter sentado neste lugar tão espaçoso foi algo que facilitou nossa vida, já que como manda a tradição árabe, a comida chegava aos turbilhões, ao ponto de pedirmos um "tempinho", para podermos entender tudo o que estava acontencendo.
O garçon, muito atencioso, um "árabe" cearense do Canindé, conhecia tudo sobre este tipo de comida e ia dando nome aos pratos numa velocidade incrível, muito embora eu não os conseguisse memorizá-los.
Assim, para ilustar esta sequência gastronômica, pedimos aos colegas que nos escrevessem tudo o que nos estava sendo servido, e é com este "papiro" que estou escrevendo a presente crônica.
Antes do início do serviço, olhei para  lado direito da minha mesa, e me deparei com o grande deserto de areia da praia de Copacabana, e, sem sentir, me transportei para o cenário hollywoodiano do filme O Sheik de Agadir (risos).
Assim, dei asas à minha imaginação, e me imaginei sob um toldo, onde comia tâmaras, mel, esfihas, cordeiros assados, etc, ao som da frenética música da dança do ventre.
Despertei deste meu encantamento quando começaram a chegar nossos pedidos.
Inicialmente nos serviram uma Salada Fatouche, composta de alface, tomate, pepino, rabanete, melaço de Romã e tempero de Summac, que é um pó vermelho e ácido, extraído das frutas da planta sumagre, um arbusto que cresce nas colinas do Líbano, além de um Taboule, entrada que é preparada com bastante salsinha.
Ao mesmo tempo nos foram servidas  três tipos de pastas, o Homus, feito com grão de bico, o Babagnouch, à base de beringela e uma Coalhada Seca, que estava simplesmente divina, juntamente com uma cesta de pão árabe.
Se me perguntassem o que poderia ser feito para melhorar algo neste serviço, eu diria, no mesmo instante, a sua apresentação, pois, algo tão saboroso, merecia ser levado à mesa em  tigelinhas bonitas, cada uma com sua colherzinha, a fim de facilitar os clientes a provarem das mesmas.
A continuação do serviço foi feita com Esfihas Folheadas de Queijo e de Carne, as mistas, e ainda as Burrecas de Queijo, assim como o Falafel, tudo quentinho e no ponto certo de fritura.
Depois foi a vez da Kafta, que é um espetinho de carne moída temperada, acompanhada com arroz de lentilha e cebola frita, do qual eu não consegui apreciar muito, dado ao fato de que não sou um grande admirador de pratos muito aromatizados, e este,  leva na sua composição, entre tantos  outros condimentos, um tempero onde se utilizam 7 pimentas árabes.
Agora foi a vez das folhas de videira recheadas com carne, as quais degustamos enquanto não chegava o prato-forte, logicamente, o cordeiro, que não pode faltar num menu árabe.
O Shawarma são tiras de cordeiro, servidas com o molho de próprio assado e acompanhadas de arroz marroquino com lascas de cordeiro, amêndoas, carne moída, canela e um pouco de azeite.
Outra coisa que não pode faltar num ágape de culinária árabe são os doces, e, dentre muitas opções, escolhemos a Belewa, uma massa folheada com recheio de nozes e servida com um pouco de mel de rosas por cima.
Assim, concluímos que o AMIR, é uma extensão árabe nos padrões cariocas, onde o cliente entra, desfruta de várias combinações gustativas, sem se preocupar com edumentárias especiais para poder ir ali.
Havia jovens com sandálias hawaianas, outros vestidos de forma mais formal, pessoas de mais idade,outros sentados na mesas postas na calçada, como se estivessem num barzinho, porém, independemente de qualquer critério, muito bem atentidos dentro da proposta do Árabe de Copacabana.
Quando estávamos saindo, tivemos o prazer de poder falar com o Nicolas Habre, proprietário do restaurante, que a todo momento repetia: - Sejam bem-vindos!
Nosso agradecimento, diante de tanta gentileza, só poderia ser respondido da mesma forma e com a mesma intensidade:
- Seja bem-vindo também !
Jacques .'.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Restaurante Blason...Que decepson!

O restaurante Blason se encontra  na Casa de Cultura Julieta de Serpa, dentro da  maravilhosa mansão localizada na Praia do Flamengo, construída em 1920, como prova do grande amor que o Sr. Demócrito Lartigau Seabra ntria pela esposa Maria José.


Recentemente, o Chef Pierre Landry, ex-Saint Honoré, de quem sempre tive excelentes referências, assumiu a cozinha deste restaurante com a proposta de incrementar o movimento que andava meio caído, promovendo uma comida francesa do tipo alta-gastronomia.
Face a isto, sugeri aos meus amigos, com quem todos os sábados saímos para tentar desfrutar de um bom jantar, que fossemos ao Blason conferir as idéias do Chef Landry.
A casa, realmente, é algo de se tirar o chapéu, pois tem uma imponência digna dos poderosos do século passado, e contém inúmeros objetos decorativos de valor incalculável.
Como o próprio nome já diz, o dono deste local é o conhecido Prof. Carlos Alberto Serpa, que sempre esteve ligado à educação, decano da PUC, ex-diretor do Cesgranrio, e que estava presente na noite do nosso jantar e com quem tive praze de trocar algumas informações.
O salão, com suas mesas montadas, por si só já cria uma expectativa de que ali vai acontecer um grande show, pois a nobreza e imponência daquele ambiente induz nossa imaginação a crer que irão advir dali, deliciosos pratos oriundos das frigideiras e panelas do Chef Landry.

O sommelier Joãozinho, que deixou o Terzetto, também está colocado na condição de alavancador de público para o restaurante, dado ao conhecimento que tem do tema vinho & cia, e da clientela que tem condição de pagar preços elevados para desfrutar das delícias de uma cozinha especial.
"Malheuresement", a dupla dinâmica Landry e Joãozinho ainda não conseguiu fazer a casa funcionar como se esperava deles, pois a mesma estava com pouquissimos clientes, gerando uma certa tristeza no ambiente, associando-se a isto, a fisionomia dos garçons e comins que não se esforçavam, de forma alguma, para dar sequer um sorriso.
Meu amigo escolheu um vinho francês, da região de Bordeaux, que lhe fora sugerido pelo sommelier, e enquanto conversávamos, veio o couvert, a primeira grande "decepson", pois o mesmo nada mais era do que alguns pãezinhos com um pouco de manteiga e uma tigelinha de azeite, que um dos funcionários nos confessou, pamem, ser da marca Borges, que é mais utilzado para cozinhar do que para ser degustado.
Passamos lotados por esta informação para não criarmos uma energia negativa com relação ao que estaria por vir, tanto nas entradas como nos pratos principais e sobremesas, já escolhidos.
O Chef Landry, muito gentilmente, veio a nossa mesa para nos ajudar com o menu, muito embora este fosse bem reduzido na sua quantidade de opções, chegando muito perto mesmo do "ou este ou aquele" prato.
Assim, diante das poucas alternativas de escolha, acabamos nos decidindo por dois carpaccios de shiitake no azeite de trufas brancas, um folhado de aspargos ao creme de frutos do mar e uma tempura de flor de abobrinha com recheio de ricota.
Segunda "decepson"...pois todas as entradas não tinham graça alguma, sendo que os tais carpaccios de shiitake estavam sem gosto e a minha tempura de flor de abobrinha estava recheada com uma ricota rançosa e misturada com o suco de um limão siciliano que sobressaía fortemente, e cuja tempura...bem, acho que não posso chamar aquela massa gordurosa e molenga desta maneira...vamos deixar quieto!
O melhor de todos foi mesmo o tal folhado de aspargos com creme de frutos do mar, que não resisti à tentação de pedir ao meu amigo que me permitisse provar do molho.
O sommelier, inexplicavelmente, desapareceu, talvez pela triste visão do salão vazio, e a consequente perda da sua venda de vinhos.
O interessante, por falar em sommelier, é que sempre que um deles abre uma garrafa e prova do vinho, nunca emitem uma opinião negativa, por pior que seja o conteúdo, e ainda existe o famoso jargão, que foi usado nesta noite: - O vinho está redondo e equilibrado!
Ora...faltava muito para que aquilo que bebemos fosse considerado equilibrado, mas, como em terra de cego quem tem um olho é rei, somos obrigados a nos curvar diante da incontestável magestade daqueles que ostentam na lapela do paletó, o pequeno identificardor da sua profissão.
Mas seguindo com o jantar, chegou a hora da terceira "decepson", quando nos trouxeram os pratos principais, que inclusive tardaram uma eternidade para chegar, levando-se em consideração de que não havia ninguem mais no restaurante, e que nada mais eram do que dois magrets de pato com figos assados, servidos com compota de acelga e dois carres de cordeiro com um gratin de abobrinha.
O maigret que me foi servido, sinceramente, Chef Landry, era algo totalmente disforme, sem o ponto correto, e o corte do tipo "pedason" e que estava tão duro e fibroso, que me obrigou a ter que trocá-lo por um medalhão de filet mignon, molho bordalesa, que na culinária francesa se equipara ao nosso famoso feijão com arroz, bife, batata frita e ôvo.
Agora, quem pensa que o mesmo estava pelo menos gostoso, se enganou, já que a carne estava crua por dentro, e era um medalhão, e não um chateaubriand, o que é inaceitável.
As costeletas de cordeiro eram de bom tamanho, estavam macias, porém, o cheiro de "bode" ia além do que se poderia aceitar.
Desta forma, passamos para as sobremesas, que vieram a se tornar, pesarosamente, nossa quarta e última "decepson".
O pedido constava de dois petit gateau e duas tortas de figo, todos sem o menor jeito de patisserie francesa, pois estavam secos por demais, além de que a calda de chocolate do petit gateau estava quase no ponto do brigadeiro.
Assim, mais uma vez, apostamos no número 0 e deu o 36, ou seja, passamos longe de poder desfrutar de um jantar digno do poderio do amor do Sr. Demócrito pela sua esposa.
Recomento que os leitores desta minha crônica possam arriscar algumas fichas nesta roleta, pelo menos para poderem desfrutar da beleza da casa, e, se as forças do bem ajudarem, quem sabe também terão um bom jantar, que, com certeza, será fácil de barrar o que nós tivemos.
Será que usaram "Sazon" no Blason?
Jacques .'.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Cisne Negro...Enfim um filme que merece ser aplaudido...Bravo!!

Até que enfim apareceu nas telas nacionais um filme que considero imperdível: Cisne Negro!
Já estava mesmo na hora de serem apresentadas obras de qualidade, pois, durante meses, somente filmes ridículos, do tipo infanto-juvenil ou aqueles voltados para o público que curte  a técnica do 3D podiam ser vistos nas salas cariocas.
Cisne Negro não é um filme para ser digerido de uma só vez, ou seja, é preciso que façamos uma reflexão para poder entendê-lo.
O espectador deverá ter uma sensibilidade apurada e muita concentração, para descobrir um pouco daquilo que o diretor Darren Aronofsky pretendeu mostrar por detrás de cada ação.
Quem já viu outros filmes dirigidos por Darren, como O Lutador, vai poder identificar neste filme a forma como ele tenta mostrar a entrega sacrificante do próprio corpo, feita por determinados profissionais, para poderem chegar a um ponto considerado por eles mesmos como sendo o da "perfeição". 
Nesta crônica estarei apresentando apenas a minha versão para o filme, não fazendo aqui, qualquer tipo de afirmativa que conduza a uma idéia de como o mesmo deve ser visto ou aceito.
O filme narra a história de Nina, uma dedicada bailarina vivida pela fabulosa atriz Natalie Portman, e que consegue obter o tão almejado papel principal do ballet O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky.
Nina é frágil, insegura e vive prisioneira das pressões da mãe (Barbara Hershey), e nem percebe que o seu equiíbrio emocional havia sido abalado em função da infância conturbada.
Entende-se que sua mãe, uma mulher desequilibrada, despejara em Nina todas as  frustações por não ter conseguido ser uma bailarina reconhecida, portanto, faz dela uma pessoa acoada, sozinha e dependente das suas aprovações para tudo.
Nos parece que o ballet Lago dos Cisnes, propriamente dito, foi o maior incrementador da insanidade mental de Nina, pois existia até um ritual, cumprido por sua mãe todas as vezes que levava Nina para dormir, e que constava  na abertura de um caixinha de música que tocava direto o tema principal da obra de Tchaikovsky.
A vida de Nina vai se tornando a cada dia um grande tormento, chegando ao ponto em que sua mente entra num colapso evolutivo, acabando por trazer-lhe até mesmo pertubações visuais que influenciavam a sua vida em sociedade.
Quem conhece a história do Lago dos Cisnes, sabe que o príncipe Siegfried se apaixona por uma linda jovem, Odette, enfeitiçada pelo bruxo Rothbart, e cuja sina seria viver para sempre como um belo cisne branco, e que à noite, por algumas horas, assumia sua forma humana.
Este encantamento somente poderia ser quebrado quando ela encontrasse um amor puro e verdadeiro, pois caso contrário, viveria a nadar sem fim no lago que havia sido criado com as lágrimas da sua mãe.
Uma festa que acontecia no palácio real, servia para que o príncipe pudesse escolher uma pretendente, e este, enganado pelo mago, acaba confundindo Odette com o Odile, sua irmã gêmea, porém, seu oposto, o Cisne Negro, e isto acaba fazendo com que Siegfried destruisse eu juramento de amor eterno feito à Odette, impedindo que o feitiço pudesse terminar.
Quando se dá conta do erro cometido, e sair desesperadamente para pedir perdão à Odette, o que  reativaria a possibilidade da quebra da magia, os dois são surpreendidos por Rothbart que faz com que o lago transborde, tragando aos dois, porém, ambos haviam já decidido que se uniriam na morte para poderem perpetuar o seu amor.
Da mesma maneira como a pobre Odette fora traída por Odile, sofrendo grande dor, Nina tem a todo o momento, sentimentos que a fazem sentir que seria traída, repudiada ou desprezada, o que lhe imputa uma dolorosa insegurança.
Numa comparação direta com a obra de Tchaikovsky, ela se via perto da felicidade, porém, a qualquer momento, poderia sofrer uma penalização que acarretaria no aumento da sua dor interna, e que somente acabaria se ela morresse para a sua vida conturbada.
Em consequência disto, ela precisava ser duas, o Cisne Branco e o Cisne Negro, para poder controlar o destino da sua vida.
Isto se tornou a sua grande obcessão, pois seu diretor (Vincent Cassel), de forma tirânica, a todo momento a fazia ver e sentir que não conseguiria fazer o seu próprio "feitiço" acabar, caso não vivesse também o papel do Cisne Preto, dando-lhe uma interpretação que tivesse a mesma intensidade encontrada no amor de Siegfried por Odette.
A sugestão que ele lhe deu, de buscar sexo através de masturbação, acabou por invadir sua alma de forma esmagadora, e, no meu entendimento, despertou o seu lado lésbico, o que veio a ser revelado na cena tão comentada onde ela transa com sua colega da companhia de ballet, Lily (Mila Kunis), porém, apenas dentro da sua mente doentia, muito embora para ela tivesse sido uma realidade.
As visões do medo constante da perda, mais uma vez se apresentam claramente no momento em que Nina pensa ver sua "amada" Lily transando com o diretor, ou quando ela acredita vê-la passando a mão no pênis do bailarino, o que a faz ver Lily como sendo a própria Odile, que destrói as esperanças de Odette.
O pavor de sentir-se lesada levava Nina a um estado de pensamento onde ela jamais seria capaz de quebrar o seu próprio encantamento, o que a levaria a viver eternamente sob o controle da sua mãe possessiva.
Então, por ter provado do prazer proibido obtido na relação sexual com Lily, por ter se drogado, por ter sentido o ódio que invadia seus sentimentos, ela se rebela finalmente contra a mãe, e vê que existe dentro dela o Cisne Negro de que tanto necessitava para poder representá-lo como desejava o diretor.
Pensando que estava lutando com Lily, que dançaria o Cisne Negro, e para quem ela temia perder seu papel no ballet, acaba por assumir este papel, ao acreditar que havia matado a colega durante a briga, e, sem sentir a dor do ferimento mortal que ela mesmo havia originado, apresentasse no lugar de Lily, sendo ovacionada pelo público.
Ao voltar para o camarim, e preparar-se para dançar como o Cisne Branco, o que significaria estar bem perto de se libertar do feitiço da sua vida de loucuras e de visões alucinantes, como as que aconteceram durante a sua preparação, ou seja, de se ver com os dedos dos pés grudados um no outro, as pernas se quebrando como se fossem gravetos de bambu seco, sua pele sendo arrancada, ferimentos, etc, ela acaba por perceber que está ferida gravemente e fadada à morte.
Mesmo assim, atordoada com esta constação, volta ao palco e dança o final da obra, onde na montagem diferenciada desta encenação, o Cisne Branco sobe num rochedo e se atira dali para a morte, levando consigo a sensação de que neste momento, morreria com a certeza de que seu encanto havia sido quebrado, e com a recompensa da conquista do seu grande feito.
Quando seus colegas descobrem que existe um ferimento na bailarina, podemos perceber nos seus lábios, naquele momento, que a felicidade finalmente havia sido alcançada por ela, e que se uniria a mesma através da morte, como aconteceu com Siegfried e Odette.
Não percam este filme pois é uma obra prima.
Oscar para Natalie? Isto é pule de dez.
Quem viver verá!
Jacques .'.