quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Roberta Sudbrack - Entre o Céu e a Terra

Sim, entre o Céu e a Terra, em algum lugar do Universo, existe um pequeno restaurante que conseguiu obter a fórmula mágica do sucesso, mesmo fugindo das regras básicas que definem o objeto do seu propósito.
Vamos ser mais claros e objetivos!
Na semana passada, fizemos uma visita ao famoso restaurante da Chef Roberta Sudbrack, merecidamente tríplice premiada no 8° Prêmio Rio Show de Gastronomia, categorias Melhor Chef, Melhor Cozinha Contemporânea e Melhor Restaurante do Rio de Janeiro.
Tive a honra de poder votar nesta sequência, pois estava participando deste evento na condição de Jurado Especial da premiação.
Obviamente, quando falamos em ir a um restaurante, entendemos que neste lugar faremos uma refeição que geralmente é composta por entrada, prato principal, sobremesa e o famoso cafèzinho.
Ao entrar no restaurante da RS, nossa expectativa era de poder sair dali com a felicidade estampada no rosto, e com um sorriso de orelha à orelha, porém, diferentemente do que muitos afirmariam, não foi o que aconteceu.
Vejamos o por que:
O cardápio se resumia apenas a três opções - com 3 pratos, à R$ 135,00, com 5 pratos à R$ 180,00 e outra opção com 8 pratos à R$ 220,00 por pessoa (não esquecer do famoso + 10% no final).
Apresentava também uma versão idêntica, só que acrescida de trufas, que nem me atrevo a divulgar os valores do mesmo, pois, já que estamos no Brasil, país com milhares de pessoas pobres e esfomeadas, certamente eu seria odiado pelo resto da vida por apresentar o afrontoso preço deste menu "trufado", e que incrivelmente muita gente pede sem o menor sentimento de culpa.
Mas, deixemos de filosofias e voltemos ao tema acima.
Assim, por estarmos diante do doloroso dilema - ou ficamos ou vamos embora - decidimos por ficar e pedir o menu de 3 pratos, pensando em saborear algo que pudesse nos recompensar pelo ato tão dispendioso que estávamos cometendo.
Pedimos uma garrafa do vinho nacional Barbera Angheben, safra 2005, à R$ 95,00, para dar um pouco mais de brilho ao jantar, e com o qual ficamos bem satisfeitos.
A taça era uma Bordeaux, Spiegelau, e a temperatura do vinho estava excelente, aliás, toda a mise en place era de boa qualidade e a decoração da mesa, discreta, comme il faut.
Haviam 3 amuses, 3 pratos considerados como principais e uma só opção de sobremesa.
Para começar, pedi uma lichia com foie gras e meu amigo uma flor de abobrinha empanada com farelo de broa de cacau.
Creio que os astros foram mais generosos com ele do que comigo (talvez por eu estar passando pelo meu inferno astral) pois somente consegui detectar a gordinha da lichia apoiada sobre uma colher de louça branca, já que, do foie gras mesmo, lembro-me apenas de ter sentido um leve aroma.
Antes de seguirmos com o prato escolhido, pedi à Chef que nos servisse uma porção dos ravioles que estavam mencionados no menu, dividida para dois, a fim de poder saciar a minha curiosidade sobre os mesmos.
Infelizmente, por mais boa vontade que ela tivesse tido para conosco, os mesmos vieram frios e ressecados.
Passamos então ao prato principal, onde me foi servido uma sobrecoxa de pato acompanhada de compota de ameixa, e para meu acompanhante, um pequeno naco de robalo com vagem.
Ambos muito saborosos, tendo o peixe arrancado suspiros do meu colega.
A batata sauté (3 unidades) que foi me foi servida dentro de um copo que continha um papel suga-gordura, era de tamanho mal gosto, gordurosa, e sem padrão de corte, que custei a me recuperar deste impacto visual.
Já a sobremesa....bem....acho melhor dispensar este comentário, pois não imagino como poderia descrever algo que me pareceu extremamente fora deste enredo gastronômico, sem dizer que rapadura boa mesmo, eu trouxe uma lá do interior do Ceará.
Comentando sobre o serviço, estou certo de que este poderia ter sido mais eficiente, caso a chefia do salão entendesse que o restaurante, por ter vários ambientes, necessita de uma intensa movimentação dos funcionários, visando um acompanhamento constante dos clientes.
Bem, chegou a hora da verdade, e pedimos ao garçon que nos trouxesse a conta - gelei.
Minha nave somente cruzou, humildemente, o menu de 3 planetas, e a conta não condizia com aquilo que havíamos comido, pois, sem medo de errar, estou convicto de que valores são todos relativos, porém, tudo na vida deve tem que estar ligado ao resultado final daquilo a que se propõe.
Concluindo, ou traduzindo, como quiserem: - um restaurante, dentro do contexto do nome, será sempre um lugar onde se vai para poder comer e ficar satisfeito, e nunca tornar-se um local de onde você sai com o seguinte pensamento:
Como seria bom se tivesse havido a chance da segunda mordida...mal começei, e já acabou.
Ninguém pode pretender comer no restaurante da Chef Roberta como se come num destes quilos da vida, mas, também, não pode sair frustrado, e com fome, como foi o meu caso, até porque é muito caro.
Custo x benefício é sempre bem vindo à bordo, e imagino que um coxa de pato agregada à sobrecoxa do dito cujo, não abalaria a planilha de custo do mesmo.
Se tivéssemos pedido o menu de 8 tempos, mesmo assim não teria sido muito diferente, apenas que a minha nave iria ficar sem combustível por um bom tempo, já que mais 2 mini amuses, mais um sorbet e uma mini tábua de queijos, não teriam feito muito diferença no final do ágape, porém, na conta....valham-me todas as forças do Universo!
Com o coração voltado para o espaço sideral, e usando desta palavra escrita  como um profissional da área de Alimentos e Bebidas, é que me atrevo a sugerir à colega e estimada Chef Roberta, que avalie a sugestão que lhe dou sobre a falta que senti daquela "segunda mordida", assim como para os preços que estão sendo praticados, pois sei que uma mudança neste sentido permitirá que muitas outras pessoas de bom gosto, possam também embarcar nas suas viagens intergalácticas de nuances gastronômicas.

Um comentário:

Crisitna disse...

Daqui da tela do computer "ouço " falar muito dela, andei lendo seu blogue por um tempo e gostei do seu rosto simpático e jeito aprentemente despojado. Tive curiosidade. A Nina Moori do blogue Gourmandise foi e gostou. A Nina tem avaliações de restaurantes concisas e objetivas. http://www.gourmandisebrasil.com/2009/08/sudbrack.html Um conhecido meu, entendido do assunto, esteve lá não se impressionou, disse que muitos outros melhores.

Um dia descobri o Trip Advisor. http://www.tripadvisor.com/Restaurant_Review-g303506-d1102229-Reviews-Roberta_Sudbrack-Rio_de_Janeiro_State_of_Rio_de_Janeiro.html . Somando as criticas positivas 38 + 9 e as restantes, de menor pontuação, 17+15 desconfio que nem tão ótimo é assim. Comecei a leitura pelas criticas negativas, as de menor pontuação. Quando bem amaparadas em argumentos, são as que prefiro ler. As queixas eram similares entre si. No Kekanto http://br.kekanto.com/biz/roberta-sudbrack. li apenas a primeira avaliação, elogiosa, de K.M. No entanto, ela relata dois deslizes de garçom, um desses, inadmissível em bom restaurante.
...
Hoje calhou que estava conversando com conhecido seu e citei justamente estas opiniões de baixa pontuação no Trip Advisor. E vejo aqui que posta algo similar. O máximo de ruim que posso aceitar em restaurante tão caro é algo como "bom mas não excepcional".

Ficam duas impressões. Ou "O rei está nu!", tão chique ir lá e ter frissons! que não se pode dizer da mediocridade. ou, a segunda é que depende da sorte. Mas o valor da conta não varia pela sorte e assim, só confirmo o que já pensava antes de ler seu texto. Fica, portanto, fora da lista de restaurantes que desejo conhecer.