domingo, 17 de abril de 2011

Coisas boas na telona...até que enfim! (PARTE A)

Depois de tanto tempo sem que tivéssemos o que ver de interessante na telona do cinema, eis que aparecem filmes maravilhosos e que não podem ser perdidos.

Irei comentar sobre dois, daí a razão deste primeiro ser chamado de parte A.

O nome do filme é Contracorrente, de origem peruana, que tem uma fotografia interessante, diálogos simples, e notadamente uma modéstia financeira que, mesmo assim, não tiraram do mesmo o glamour de um espetáculo repleto de momentos de intensa emoção e de incentivos a uma auto-reflexão.

A história se passe num vilarejo da costa norte peruana, de nome Cabo Branco, onde Miguel (Cristian Mercado) é um simples pescador, casado com Mariela (Tatiana Astengo), que está grávida e perto de dar à luz ao primeiro filho do casal.

Neste mesmo local vive Santiago (Manolo Cardona), um jovem artista oriundo da capital, fotógrafo e pintor, que sempre visitava Cabo Branco, porém, acabou decidindo estabelecer-se ali face ao amor que nutria por Miguel.

Mesmo diante de todos os riscos e dificuldades, já que um homem amar outro homem é extremamente complicado, além de ser muito difícil de conviver com esta situação, Miguel se divide entre a figura do marido fiel, de futuro papai, uma pessoa de respeito no povoado, convocado para todos os momentos de maior expressão da comunidade, e o papel de amante de Santiago.

Logicamente, que os momentos que passava ao lado de Santiago eram vividos com muita intensidade, e isto lhe dava a certeza da sua opção sexual, mas, conviver com a situação de marido e futuro pai lhe era altamente conflitante, asfixiando-lhe a alma.
Seu sofrimento era grande, porém nada podia fazer diante daquela situação onde a força do seu amor e a realidade da sua vida, conflitavam intensamente dentro dele, sem que houvesse uma luz que lhe apontasse uma solução para esta grande verdade dentro dele, ou seja, libertar-se da mentira que era obrigado a viver.

Dado a sua índole de homem de bem, decidiu que tinha que buscar uma maneira de tentar expor sua verdade para todas as pessoas, independentemente das discriminações que seriam geradas em função desta revelação.

Eis que inesperadamente, Santiago sofre um acidente e morre nas águas de Cabo Branco, e segundo a tradição local, sua alma não encontraria descanso até ser encomendada à Deus, e seu corpo atirado ao mar após uma prece.

Mas quem faria esta demonstração de carinho e afeto por um homossexual que era desprezado por todos os integrantes daquela pequena cidade?

Assim meio que numa cópia de Dona Flor e seus dois Maridos, somente Miguel conseguia vê-lo, tocá-lo, sentí-lo e conversar com êle.

Se Miguel pensasse nele, ou desejasse sua presença, imediatamente ao seu lado aparecia o espírito de Santiago, o que promovia uma sensação de prazer ao pescador, já que aparentemente, desta forma, poderia ter a companhia de Santigao sem tomar as rígidas precauções como no passado.

Assim, sem ser cumprido o ritual de encomenda do corpo de Santiago, conforme a tradição do vilarejo, sua alma continuaria vagando ao lado de Miguel.

A cada dia, mesmo após o nascimento do filho, este sentia que em algum momento teria que "abrir o jogo" com a esposa e poder dar ao seu grande amor a paz que necessitava, e que não conseguiria ao mesmo tempo, encontrar a sua própria paz, se a dor das mentiras e das simulações  perdurassem por muito tempo.

Quando o corpo de Santiago aparece preso na rede de um barco de pescadores da aldeia, Miguel se vê diante do grande dilema da revelação confessa, já que a casa do artista tinha sido invadida por um casal de namorados, que buscavam um local para transar, e se depararam com as inúmeras pinturas do pescador, despido, em locais pouco explorados do povoado.
Miguel decide então revelar tudo e enfrentar a perda da esposa que parte com o filho, e ainda toda a revolta do povoado que o despreza e desconsidera por ter tido relações sexuais com outro homem.

Mesmo com toda as pressões que lhes estavam sendo impostas, Miguel decide proceder ao ritual de encomenda do corpo de Santiago, e surpreendentemente acaba por contar com o apoio do padre e de alguns moradores do vilarejo que decidem acompanhar o cortejo.

Desta maneira, ao final da prece, já no seu barco levando o corpo de Santiago para ser jogado em alto mar, e chorando sobre o cadáver do seu verdadeiro amor, eis que este lhe faz sua derradeira aparição para dar-lhe um beijo emocianante e cheio de ternura, não sexual, claro, mas de agradecimento pela demonstração do grande amor que Miguel demonstrara ter por ele, ao proceder ao ritual, e que revelava publicamente a união dos dois.
Grande atuação de todo o elenco que dá muita veracidade ao enredo do filme, de uma forma simples, porém, com muita emoção e sem momentos piegas.

Imperdível!

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